Eu juro, por Apolo, médico particular, por Genéris, Medinfar e Bayer, e tomo por testemunhas todos os doentes ricos e todas as enfermeiras mamalhudas disponíveis, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, a Ordem; fazer vida comum e, se necessário for, com ela partilhar meus bens, nomeadamente o meu consultório nas Torres de Lisboa, o BMW e a vivenda na Quinta da Marinha; ter os filhos dos pacientes abastados por meus irmãos - com a excepção das filhas, com quem devo poder dar uma queca ocasional; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, com remuneração elevada e sem compromisso com os hospitais públicos, da ralé; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meus colegas do Privado e os todos os doentes que paguem, segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes (quem não paga não deverá ter direito a tratamento).
Aplicarei os regimes para o bem do meu bolso e conta bancária segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar perdas ou danos a mim mesmo ou ao Laboratório para o qual trabalhe. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda, sem que antes me paguem abastadamente o respectivo favor. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva, a não ser que seja uma paciente que esteja grávida da minha pessoa.
Conservarei imaculada minha vida e minha arte num Hospital Público qualquer, desde que tenha direito a carro, telemóvel e regime especial de saúde e segurança social.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado (a não ser que pague bem); deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam (de preferência meus sócios, num hospital particular, com retorno de 30% dos ganhos para a minha ilustre pessoa).
Em toda a casa rica, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados, com a excepção de donas de casa solteiras, viúvas, divorciadas ou sem os maridos presentes e respectivas filhas.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto, até que um cheque de valor avultado seja depositado na minha conta nas Ilhas Caimão.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens de bem e poder; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça, indo trabalhar para um miserável hospital público.
Nota
Esta semana, foi recusado tratamento a uma paciente com dores num Centro de Saúde de Lisboa por dois motivos: era imigrante ilegal e não tinha dinheiro para pagar os 18 euros exigidos aos emigrantes ilegais não inscritos no Serviço Nacional de Saúde.
A paciente acabou por ser tratada nas urgências de um hospital público...
Cumprimentos Patinos
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