Crónicas de um domingo anunciado

Há quem não compreenda que seja possível rir e sofrer ao mesmo tempo.
Há quem não compreenda que só sofre aquele que chora.
Há quem não nos compreenda verdadeiramente, porque se baseia numa perspectiva meramente adolescente da nossa pessoa.
Há quem não acredite que um verdadeiro Homem se esconde debaixo das camadas mais refundidas da dor.
Há quem ache que é possível esquecer facilmente apenas porque tentamos fazer avançar a nossa vida miserável aqui no mundo terreno.
Há quem demonstre apenas a alegria e não partilhe a dor.
Há quem acredite no Outro Lado e ache que nos conseguem ver e partilhar dos nossos dias.
E depois chega o dia do mundo real, em que somos verdadeiramente postos à prova e todas essas fantasias românticas caem por terra.
De facto, não me parece que consigam velar por nós.
É um mito a cena do sentir a festa ou abraço invisível.
Nem o cheiro se sente de novo. Apenas a fragância deixada de dia para dia, que se vai dissipando de hora para hora.
E podemos esconder o nosso sofrimento à vontade. Podemos resolver os problemas à nossa maneira. É uma forma interessante de ouvirmos os comentários mais nojentos dos que nos estão mais próximos.
Quando damos por nós, estamos em casa, sozinhos, rodeados de nada. Claro que há os amigos, que estão sempre lá; mas o que é delirante é ver que os nossos familares, que deveriam ser mais que os amigos, não o são. E de repente verificamos que somos ovos, órfãos de ninho.

Não me queixo.

Os Patos a sério encaram a dor e o sofrimento com um sorriso no bico, sempre a tentar animar quem poderá estar pior.

Os Patos não se queixam da sua própria pessoa mas, quando eventualmente o fazem, fazem-no numa perspectiva mordaz, sarcástica e hipócrita de si próprios.

São formas de lidar com a solidão, a raiva e a revolta.

Cumprimentos Patinos!