É curioso como no Dia dos Finados, a malta sai à rua para honrar os mortos.
Yah, porque durante os restantes dias do ano, eles não estão mortos, estão só esquecidos... depois vem o Dia dos Finados, e como já refinámos a bebedeira da véspera (que só por acaso, até é uma festa pagã) faz-se um clique nas circulares vasculares cerebrais e vamos meter florzinhas no cemitério.
Ah, é verdade, tenho de ir ao cemitério...
Pelo caminho, encontramos os vizinhos que também andam por lá. Sim, porque esta cena de termos os cemitérios organizados por zonas dá um jeitão... garantimos sempre que a malta que morre está pelo menos localizada. Já as valas comuns têm a vantagem de se poder socializar longe da pedra fria...
Quando morrer quero ser bem queimado e atirado para algures. De preferência um rio ou algo parecido. Evitam-se os constrangimentos de obrigar a malta a visitar-me a campa.
Em todo o caso acho que os caixões de cremação, são uma chulice tremenda.
Um gajo quando morre e quer ser cremado, tem de ir num caixão. Acho que ainda não viram bem o desastre ecológico de que estamos a falar. Se vai ser tudo queimado, seria preferível algo menos prejudicial ao ambiente. Já não falo em sacos de plástico, mas um lençol, por exemplo, poderia fazer o efeito desejado.
O Halloween enerva um bocado. Não pelo dia em si, mas pelo stress que provoca a programação da televisão. Simpsons especial Halloween, Family Guy especial Halloween, Fringe especial Halloween, telejornal especial Halloween e a merda que o foda especial Halloween. Depois de levarmos com a injecção completa e assumirmos que ainda não será este ano que iremos vestir a máscara de Ceifador e bater à porta da vizinha do andar de baixo a meio da madrugada, vamos dar um pulinho à net e, imagine-se, temos o FarmVille e o Mafia Wars no Facebook com o "Halloween Special".
É uma forma interessante de se curtir o Dia das Bruxas: enlouquecendo.
Entretanto, já dentro do espírito do Halloween, e enquanto reparava mais um computador, apercebi-me mais uma vez de como nunca teria qualquer tipo de vocação para medicina.
Um médico dizer a um velhote que espera pela sua companheira de longos anos que ela vai morrer, consegue incomodar até o mais insensível dos informáticos.
Sou bastante flexível nestas coisas. As pessoas têm uma duração de vida, já aprendi isso. Mais curta, mais longa, mas a nossa condição humana resume-se a sermos iogurtes fora do frio prestes a passarmos de prazo. Em tudo e com qualquer coisa, há um dia em que a nossa validade expira. Morremos para as pessoas, morrermos para o mundo, ou até mesmo para nós próprios.
Mas há qualquer coisa de muito cretino em dizermos a alguém que passou anos da sua vida com outra pessoa, alguém com quem repartimos a nossa vida e o coração, gritámos, zangámos, fizemos as pazes, beijámos, tivemos filhos... o que for, que essa pessoa vai morrer. É um bafo, vai simplesmente desaparecer, transformar-se numa mistela orgânica qualquer e sumir-se de vez das nossas vidas.
É um acordar para uma realidade incrivelmente nojenta. Na nossa perspectiva egoísta, desejamos sempre morrer antes de todos aqueles que queremos bem, somente pelo desejo de não sofrermos. Contudo, ironicamente, ficamos sempre por cá a ver as vidas a passar até acabarmos inevitavelmente sós e podermos finalmente morrer em paz.
Depois tentam vender-nos que ao menos ficará para sempre no coração... mas o facto é que apesar de andar sempre por lá, fisicamente deixa de existir. Passa a ser uma sombra, uma boa recordação, até que eventualmente ascenderá à condição de mito ou algo parecido.
É estupidamente cruel, e por muito lamechas que possa parecer (gay, eventualmente) já não tenho coração para ver a cara do homenzinho ao receber a notícia antes de tentar ir ver a mulher como se nada fosse, fazendo-a acreditar que tudo iria correr bem.
Para o ano haverá mais. Todos os dias há mais.
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