27/10/2007

diarreia de sábado à noite

O que os sábados têm de bom é a enorme alegria de sabermos que falta apenas um dia para recomeçar a semana de trabalho. E com ela, recomeça um pouco da rotina e controlo que temos sobre nós próprios.
Afogamos as mágoas no trabalho, rindo e dizendo umas piadas como se estivesse tudo bem, ignorando o nosso próprio eu que, propiciamente, fica bem enterrado no fundo do nosso ser. Sempre presente, é verdade, mas escondido, até emergir novamente do fundo do poço à noite, retirando-nos horas de sono mas também treinando os instintos mais recônditos da nossa entidade; no silêncio da madrugada, quando os bêbados já adormeceram após espancar as mulheres e quando as putas já regressaram às suas casas após uma noite de trabalho, quando até a carreira da madrugada da Carris já terminou o seu trabalho e os homens do lixo regressam à base, nesse exacto momento, na escuridão da noite e no silêncio de tudo o que nos rodeia, encontramos a nossa real lucidez. Entre o acordar de um dos sonos e o cair no seguinte, há ali um breve instante em que sabemos exactamente o que somos, o que queremos e para onde vamos.
É aquele momento em que acordamos com vontade de mijar e de beber água e em que temos a perfeita noção de que se o fizermos, acabaremos mais tarde novamente com sede e vontade de expelir fluidos. É a altura da noite em que mais nos custa termos os pés gelados e adormecidos.
Despertos e vigilantes os sentidos tornam-se mais apurados. Mesmo com rinite alérgica detecto os mais variados cheiros que emanam da rua e do prédio; a língua enrola-se na boca (na minha...) oscilando os terminais nervosos que interagem nos meus domínios; o tacto, esse, torna-se excessivamente delicado, tornando-se sensível ao acariciar dos lençóis; mesmo míope e em plena escuridão (ok, com uma ajudita da Lua e o candeeiro da rua) vejo o que mais ninguém consegue ver ao meu redor - o que é natural, pois estou sozinho no quarto...; no silêncio da noite consigo ouvir o que a minha consciência me tenta dizer e que eu ignoro durante todo o dia.
O que a consciência me diz?
Bom, a vida de um Pato é um livro aberto à Humanidade... mas também temos os nossos segredos.

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