12/05/2007

Realidades

Ultimamente, e vá-se lá saber porquê, tenho conhecido uma outra dimensão da minha realidade patina.
Começo a encarar a expressão do 'que se foda' como uma nova leveza da minha mente de pato.
Se até há bem poucos meses atrás eu era um pato preocupado com o Mundo e com os outros, um Pato preocupado com a fome e com a violência, as injustiças sociais e o estado da Nação, tenho-me tornado no que se pode chamar de um apático às questões sociais. Os etíopes? Que se foda! Despedimentos colectivos? Que se foda! Oh! Putos órfãos na Guiné? Que se foda!
Poder-se-ia até dizer que me tinha tornado num pato sem sentimentos. Mas não, pelo contrário! Até há bem poucos meses, não me rebentavam as águas do saco lacrimal enquano ouvia o 'High' dos Lighthouse Family... O que é um facto, é que os patos também endurecem (e não, não é nenhuma piada de cariz sexual... guardo isso para os dias de semana enquanto me tento convencer que está tudo bem) e como tal, deixam de se preocupar com uma série de coisas com que se preocupavam antes. Os patos são animais sensíveis por natureza que, tal como dizia o puto do 'About a Boy', são também os únicos a conseguir matar um tubarão com o bico (bicam-lhes os olhos). Assim, os patos na minha condição, começam a convergir da preocupação para com os ilustres desconhecidos para um campo muito mais racional, que é a preocupação com os que lhes são próximos. Torna-se tudo muito mais prático. Assim, a preocupação com a família (para os que ainda a têm) e para com os amigos torna-se imperativa.
Devo dizer que apesar dos meus 19's e 20's a Português B, quando ainda era um puto na secundária, nunca tinha percebido bem Pessoa e a tara do gajo depois de a mãe se ter casado novamente... sentia-se sozinho e tal...
Agora compreendo.
Claro que a Gansa Mestra deste ninho não se casou novamente.
Tipo... eu agora podia ser completamente passado dos cornos e usar uma metáfora (neste caso seria mais eufemismo) e dizer que a Gansa se tinha agora casado com Deus. Mas isso seria ceder a princípios de crença religiosa aos quais, neste momento, não estou com disposição para tentar assimilar uma vez mais. Seria uma tentativa estúpida de acreditar novamente num Ser Superior e na Justiça Divina... Coisas em que ultimamente tenho pensado e pensado e donde só consigo retirar uma conclusão: Que se foda!
O que chega a ser assustadoramente divertido e realmente potenciador de depressões é que já é a segunda vez que vou fazer as compras do mês sozinho.
Também nunca me tinha apercebido que era uma actividade tão nojenta para ser feita a um.
Levo Fusilli Tricolor ou normal? Cerveja branca ou preta? Uma ou duas garrafas de detergente? Hum... vou tentar calcular a quantidade de detergente para a roupa que necessitarei para um mês...
E depois é mesmo irritante o pessoal que me rodeia a fazer compras.
É que são sempre de dois tipos. Ou os filhos com as mães. Ou os casalinhos amorosos. Ambos me deixam completamente passado. Fica-se com uma certa vontade de fazer um Columbine Show no Continente... e depois rebentar os cornos.
Mas se fizesse isso depois tinha algum pessoal a chorar (ou não) junto do caixão a dizer aquela palavra nojenta que era capaz de me fazer levantar da tumba para espancar alguém: coitado! E isso sim, era ainda pior!
Mais interessante é ir comprar roupa sozinho. Sem opiniões femininas. E é ver os patos especados perante uma parede cheia de gravatas a pensar em qual será a cor que melhor ficará num fato.
É realmente irritante.
Sim, e porque as patas não caem de beirais enquanto vamos a passar e dizem 'Olá posso acompanhar-te?' continuamos a nossa vidinha deprimente e solitária, quais Fernandos Pessoa anónimos a deambular pelos corredores do centro comercial.
No outro dia dei por mim a pensar que talvez um dia pudesse casar comigo. É uma relação que já dura há alguns anos... partilho uma cama e uma a vida a um comigo mesmo... e contacto sexual não falta! (javardice, aí está!). O pior é que se não me tornar crente rapidamente, depois por quem é que eu chamo na noite de núpcias quando estiver prestes a atingir o ponto sem retorno?
É giro ver como as conversas (no meu caso, os monólogos) derivam de deprimentes a porcos em tão poucas linhas.
Agora vou ver se lavo a loiça. Com aquele belo detergente de cor e cheiro incertos que adquiri... hum, é capaz de ser limão. Só não percebo por que razão a cor é verde. Devia ser amarela... Mas é irrelevante. Há por aí muita coisa que não deveria ser e é ou que não é e deveria ser...

Cumprimentos patinos!

1 comentário:

RN disse...

Caro Amigo Pato Marques,

Só por ingenuidade pode o meu amigo não perceber as inúmeras vantagens que existem em ir às compras sozinho... sobretudo se, apesar da aparência de "casaliho amoroso", o que transportamos ao lado é um valente complicómetro.