07/06/2007

Teoria Metafórica da Condição Automóvel

Ok... já passa da meia-noite e meia, estou cansado, carregado de sono, mas sinto-me em falta para com os meus poucos leitores.
A história de hoje vai soar um bocado a private joke.
Eventualmente, poderá considerar-se uma metáfora imbecil que poucos perceberão.
Poucos perceberão, não porque são estúpidos - não é o que quero dizer - mas sim porque se encontram fora do contexto.
Na realidade, talvez alguns até superem as expectativas e cruzem o cerne da questão.
Na prática, acredito que um ou dois percebam o que quero dizer.
Até porque se trata de uma extensão de uma conversa de almoço...

Automóveis.
Toda a malta quer ter um.
O problema é: de que tipo, de que marca, de que cor.

O sonho do comum dos mortais é o Ferrari.
Pessoalmente, prefiro o Aston Martin. Para além da qualidade britânica ser algo de excepcional, é dos poucos que são efectivamente feitos à mão. Mas isso não interessa. Voltemos ao Ferrari.
O Ferrari é um carrinho com um custo inicial elevado.
Há que torcer os jardins suspensos até ao tutano para o conseguir pagar.
E depois há os custos de manutenção. Um gajo quase que tem de pedir licença ao mecânico para meter as patas no carro.
Mas sejamos práticos.
Valerá a pena investir no Ferrari?
Tipo... não é um carro para o dia-a-dia! É um carro para uma volta ocasional... e qual é o gozo disso???
Damos umas voltas, ficamos relativamente contentes, a adrenalina toda no máximo, mas não tivemos tempo suficiente para conhecer o material.
Há ainda uma questão importante: o Ferrari tem uma personalidade muito própria, arrogante! O condutor não escolhe o Ferrari, é o Ferrari a escolher o condutor.
E, garantidamente, assim que o Ferrari encontrar um condutor melhor - melhor para os seus parâmetros, claro - irá deixar o actual apeado.
Dá trabalho, dá problemas, é uma merda.
Não, a malta não quer Ferraris!

Chevrolet.
Caímos no facilitismo.
O gajo, desesperado, precisa de um transporte urgentemente mas não tem um centavo.
Salta para o primeiro volante que lhe aparece à frente.
Não será um carro de longa duração.
Dá o jeito, no momento, mas mais cedo ou mais tarde, xauzinho...
Ou cede o carro, ou cede o condutor.
E ambos sabem à partida que vai dar merda.
Sim, é certo, desenrasca!
Sacamos o travão-de-mão numas curvas, andamos a fazer chiar os pneus, nada de controlos electrónicos ou ajudas desse género. Andas um dia, andas dois dias, e se sobreviveres ao terceiro, desistes!
Conheces tudo o que o carrinho tem para te dar em dois dias.
Não há emoção, não há evolução criativa.
Um gajo perde a paixão de conduzir e transforma-se num condutor de domingo.

Marca Generalista.
Por exemplo, Opel.
Tal como poderia ser um Ford, Peugeot, Renault e afins.
Tem um custo inicial razoável.
Dá algum desafio. Até um gajo o conseguir, tem de trabalhar um bocado.
A manutenção é aceitável e tem-se um carro para todos os dias.
Não dá o status de um Ferrari, mas também não é um Chevrolet.
Não dá o gozo instantâneo de uma condução desportiva mas, por outro lado, cada dia é um dia, e em cada dia aprendemos um pouco mais acerca do nosso companheiro de estrada.
Não o conhecemos de imediato, nem ele nos conhece a nós.
É uma aprendizagem contínua que se vai solidificando com os anos.
É um carro para muitos e longos anos. Se bem cuidado, é um carro para a vida.

Facto:
Comprar um Ferrari é fácil, basta escolher a cor (altamente equipado);
Comprar um Chevrolet é fácil, basta escolher a cor (vem crú, sem equipamento);
Comprar um Opel já é mais complicado.
Cor, tamanho das jantes, tipo de rádio, motor, estofos, interior, mil e um extras que o tornam diferente do seu semelhante e o mais atractivo possível para os nossos olhos.
Naquela onda... o resto do pessoal pode detestar aquele padrão no tecido dos estofos... mas nós gostamos!
Chega a demorar muito tempo para encontrarmos a combinação correcta. Quando a encontramos, é o melhor que podia ter acontecido.
Visão pessimista: podes nunca encontrar a combinação que desejas...

Para quem acompanhou a história: percebem agora o que pretendia explicar?

Cumprimentos Patinos!
(agora sim, vou dormir)

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