Amanhã é dia da Mãe.
Seria de prever que eu dissesse qualquer coisa a respeito, certo?
Estava a pensar em comprar-lhe um raminho de flores, mas considerando o local onde ela está, talvez fosse mais coerente dar-lhe um barco, ou algo semelhante. Uma bóia, eventualmente, porque ela nunca nadou muito bem.
Ainda não estou a ser suficientemente negro.
Era interessante fazer-lhe uma visita. Mais ou menos como os filhos que visitam as mães no lar.
Sempre brincámos os dois a respeito da morte de um ou de outro. Sempre dissémos que nunca seríamos dignos de merecer o Céu ou o Inferno, se é que existem. Considerando que o Inferno é um lugar aqui na terra, partimos sempre do princípio que ficaríamos condenados ao Purgatório.
Da mesma maneira, víamos o Purgatório como os serviços administrativos do pós-vida. Qualquer coisa como os serviços de finanças lá do sítio, onde quer que o 'sítio' fosse.
Ainda imagino a minha Mãe sentadinha algures na sala de espera com um daqueles números altos na senha que tirou (tipo 99999999999999) quando o indicador pendurado no tecto ainda marca o 2... acho que seria de valor, uma visita só para a ver de novo.
No fundo, como quando ela estava no Banco à espera de ser atendida, e eu passava por lá antes de entrar no trabalho, no turno da tarde.
"Olá, ainda estás demorada?"
Dois dedos de conversa, algo do género...
Creio que o tal Purgatório, de que tanto se fala, não passa de uma sala de espera apenas com porta de entrada. Talvez por esse mesmo motivo, tenha alguma pressa de lá chegar, mas seja cobarde o suficiente para não procurar a porta. Bem, um dia lá se chegará.
Já teve o nome de Gripe Mexicana, Gripe Suína e agora deram-lhe o fabuloso nome de A.
Concordo que os porcos não tenham nada a ver com o assunto, chamar suína a uma gripe é talvez o mesmo que chamar paneleiros aos funcionários das Finanças. Ou bichonas lésbicas aos polícias. Ou filhos da puta aos taxistas. Ou então porcos endrominadores aos informáticos. Não parece justo.
A malta delira com pouco, mas descobri uma forma porreira de me deixarem em paz no autocarro. Uma tossezinha persistente, um espirro controlado... umas gotinhas de suor na testa, feitas com um pouco de água e... é excelente, porque por muito atolado que vá o transporte, ninguém se senta ao lado de um gajo!
Por acaso, ando a espirrar um bocado.
Como sou um porco, eventualmente terá algo a ver com a gripe suína.
Acho apenas que Gripe A é um nome demasiado discriminatório para com o alfabeto. Desde que
chamaram A ao raio da gripe, o B já se mandou para o lado do H e o C anda em mudanças para a zona do U. Se eu fosse o A, processava esses gajos todos. Os porcos, por que não?
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