Fácil, a gente ter mãe,
nem se percebe que tem,
mas só saber que ela existe,
que podemos encontrá-la
à hora que desejarmos,
que seus olhos sorrirão,
cheios de amor e bondade,
ao ver a nossa aflição;
que a seu lado - ela que é fraca-
nos sentiremos tão fortes
confiantes no futuro,
o coração tão seguro
e o mundo todo tão bom,
como se fosse verdade,
só isto vale ter mãe,
e é uma felicidade.
Fácil a gente ter mãe
- quase todo mundo tem -
mãe é uma coisa tão bela!
Pena é ver que há pela vida
os que só sabem que há mãe
porque ouviram falar nela,
só a conhecem de nome,
às vezes mesmo, nem isto.
Mãe é uma simples palavra
como uma nuvem ao vento,
um vazio pensamento.
Fácil a gente ter mãe,
nem se percebe que tem
no todo dia a seu lado
quando se tem a certeza
e se sabe onde ela está,
pra dividirmos com ela
uma alegria, um revés,
que basta só querer vê-la.
Assim é fácil ter mãe.
Difícil, sim, é perdê-la,
é ter que aceitar a idéia
de que no lugar de sempre
ela não se encontra mais.
Não adianta abrir a porta;
não passeia na varanda,
a cadeira está vazia,
na cama não tem ninguém.
E aquela voz que conforta,
que nos dava tanta paz,
que era um bem que não tem preço,
que era o nosso maior bem;
não ouviremos, calou-se,
é que ela agora mudou-se
pra um lugar sem endereço
onde Deus mora, no Além.
Ah, difícil é perdê-la,
nunca mais poder achá-la,
nos sentarmos a seu lado,
passearmos na varanda,
vê-la no quarto ou na sala,
que partiu, sem ter mais volta,
que pra nós nunca mais vem!
E indefesos e sozinhos,
termos que aceitar a sorte
por desolados caminhos,
inconformados com a morte,
todos perdidos também.
Fácil é a gente ter mãe,
mãe é assim como uma estrela,
estrela-guia que a gente
traz guardada dentro em si.
Difícil, sim, é perdê-la
como uma estrela cadente
que de repente se apaga...
E, oh, meu Deus, eu a perdi.
Brasília, Dia das Mães, 11 de maio de 1975
( Poema de JG de Araujo Jorge in " Tempo Será " - 1986 )
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