Com umas semi-férias de três dias, e vendo-me sozinho na cidade de Lisboa, aproveitei algumas horas de cada dia para dar uns longos passeios, vagueando sem rumo, pelas ruas.
A pé e na companhia do meu fiel e confidente leitor de mp3, fui caminhando, arejando a cabeça e o resto do corpo. Não que tenha ido passear como vim ao mundo, mas considerem 'arejar o corpo' no sentido de fazer alguma actividade física, que ao longo do último ano, foi coisa que não fiz. Embora esteja mais magro.
E até dá o seu certo gozo, andar ao final da tarde, com o sol a torrar os corninhos (de leite) pelas ruas, como se fosse um cão rafeiro. Ou pato rafeiro, neste caso. Embora prefire imaginar-me na liberdade felina dos gatos de rua. Embora esses tenham normalmente companhia de uma felina. Tipo, não que não fosse possível arranjar, mas não quero táxis.
O que dá ainda mais gozo é o facto de observar as pessoas, o seu comportamento, as suas atitudes.
Adoro os turistas. Os espanhóis é um gozo. Podem estar totalmente perdidos, num qualquer beco da cidade. Topam-se logo. Mapa na mão, a olhar para todos os lados. Normalmente são um casalinho. Ele, com o seu ar de macho latino a passar a imagem do 'querida, deixa que eu resolvo'. Ela, com o ar de vitelo abandonado a passar as mãos pela cabeça. Perdidos, totalmente perdidos. Mas nunca pedem ajuda. Aguardam sempre que vá alguém ter com eles a oferecer auxílio.
As holandesas são engraçadas.
Sempre em grupinhos de gajas... Pavoneiam-se como se fossem um grande objecto de desejo e fazem-se de tolinhas sempre à espera que um gajo vá oferecer ajuda. No que me toca, podem continuar à espera. E olham para o céu, olham, olham, olham... nunca percebi a pancada dos holandeses com os telhados das casas de Lisboa.
Os britânicos são fantásticos.
Nesta altura do ano, andam em família. O típico é o pai (sempre com o mapa, alguns metros à frente do resto da família); o filho (normalmente o mais novo) vem no meio, naquela onda do 'sou um gajo muito fixe e as portuguesas adoram o meu tom de pele'; a mãe e a filha vêm normalmente no fim e vão olhando para o pessoal que passa. 'Olha, um vagabundo, que típico!'; 'Olha, um polícia, que típico!'; 'Olha, um gajo a ouvir música deambulando pelas ruas, que típico!'. Talvez não esteja a ser justo. Até são pessoal porreiro.
Mas ao andar sozinho pela cidade, um pato apercebe-se de outras realidades.
Ainda não consigo perceber.
Somos um país desenvolvido, renovamos frotas nos ministérios, construímos pontes e túneis, apoiamos a causa do desenvolvimento tecnológico mas, e mais importante que tudo isto, continuamos a ter famílias a viver miseravelmente nas ruas da cidade. Mendigos a morar em caixotes de lixo nas praças mais movimentadas. Toxicodependentes a espetarem-se em plena rua. Prostitutas (e não me refiro às de luxo) circulando pelos cantos da cidade, numa pseudo-decadência, vendendo o pouco corpo que já têm, por alguns trocados.
Somos um país desenvolvido. Materialmente, sim. Em termos de sociedade, pertencemos ao Terceiro Mundo.
Enquanto caminhava e ouvia música, recordava aquela letra dos Xutos:
Os meus problemas
São leves penas
Se comparados com
A guerra nuclear
Sigo a diante, sereno e confiante
Deixo a tristeza pra trás
Roubo uma rosa
Preparo uma prosa
Nunca se sabe do que um perfume é capaz.
Boa noite, cumprimentos patinos!
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