"A impressora não imprime"
Todos os dias, ao longo de três anos, ouvi a mesma coisa. Continuo a ouvir a mesma coisa. E já começo a pensar que o problema talvez não seja das impressoras, mas sim meu.
Caramba, três anos a ouvir isso... alguma coisa quererá dizer...
Curiosamente, os motivos para a impressora não imprimir nunca são os mesmos, o que é fabuloso.
Em três anos, a malta continua a surpreender-me nos motivos para o raio de uma impressora não imprimir. E tenho a certeza absoluta que vão continuar a surgir novos e extraordinários motivos...
Numa bela sexta-feira, de manhã bem cedo, alguém me telefona com o problema habitual.
Ok, não sou exactamente um técnico de impressoras... basicamente configuro-as e ligo-as na rede, não estou propriamente à vontade a abrir uma para ver o que se passa nas entranhas dos tambores de impressão. O meu lado mais curioso, leva-me a tentar abrir a porcaria da HP para ver o que poderia impedir que três rolos e um mecanismo teoricamente simples, não puxassem a merda de uma folha.
Demorei meia-hora. Meia-hora de teimosia para tentar descobrir o que se passava. Finalmente, uma luz no fundo do túnel... ou uma régua no fundo do rolo.
Uma régua. Alguém se lembrou de meter uma régua em cima de um monte de folhas que, entretanto, foram sugadas pela impressora... E a régua foi atrás, para o tabuleiro de impressão. Fiquei a pensar quem seria o animal capaz de imprimir merdas numa régua, mas quando falei nisto ao meu colega e ele disse que já tinha tirado de lá coisas bem piores fiquei francamente assustado e senti-me mesmo pequenino neste mundo digital não-impresso.
Ao começar o meu novo trabalho, deram-me um pequeno presente. Fiquei mesmo contente...
Tenho um telemóvel que funciona dentro do recinto, numa rede sem fios, e que capta todas as chamadas que tocam no telefone que tenho na mesa.
O princípio da disponibilidade é algo fabuloso. :S
Não que me incomode muito... tenho dois telemóveis que andam sempre comigo, um terceiro não será nada do outro mundo. O que me deixa completamente lixado é o facto daquela merda estar sempre a tocar. Quando um gajo está a dar uma mijinha e o telemóvel toca ou recebemos uma sms, sabemos que os nossos amigos aguardam o retorno da chamada... mas o pessoal do trabalho em pânico, não... toca, toca, toca, toca... epa, não dá mesmo para atender. Gosto de mijar com as duas mãos, detesto salpicar o tampo da sanita! Será que não podem esperar um segundo para lavar as mãos antes de atender? É que sou eu que vou estar o resto do dia com aquela merda encostada ao ouvido!!! Uma pequena parte de higiene é agradável...
Já ganhei o presente perto da Páscoa. Sempre que me perguntam se aquilo é funcional, gosto de afirmar a pés juntos que sim.
O último tipo que reclamou na Páscoa, ganhou uma cruz de 15 metros... assim de repente, não me sinto à vontade para reclamar de um telemóvel de 15 cm. Enquanto não mo pregarem ao ouvido e mo obrigarem a arrastá-lo pelas escadas... é melhor ficar caladinho.
Assim de repente, o pessoal adora gozar com a minha capacidade de levar tudo a sério.
Domingo.
Num agradável fim de tarde, alguém me telefona para saber se estou muito longe do trabalho.
"Pois... não..."
"Ah, consegues meter-te lá em 10 minutos?"
Começo a pensar que de facto, não queria mesmo lá ir. De facto, o meu programa de fim de tarde estava a ser bem melhor que ir ver computadores ao trabalho.
De um lado, o tal fim de tarde agradável. Do outro lado, a certeza laboral de que estaria perfeitamente fodido se não fosse ao trabalho (apesar de teoricamente não fazer horas extraordinárias).
Após uns segundos de pesagem estratégica da situação, e respondendo (também estupidamente) com um pequenino "consigo estar lá em 15...", fitando as borras do café, começo a ouvir a risota do lado oposto da linha.
"Ah, ah, estava a gozar... tem calma..."
Já me fizeram várias partidas. Invariavelmente, sem grande piada. Mas esta, atendendo ao contexto do problema, deixou-me atravessado um modesto "vai para o caralho!" ao animal que me telefonou.
No meu pequeno universo, em que tudo trabalha ao minuto, perder 120 segundos com um telefonema de merda, deixa-me um bocado irritado. Não muito, mas com alguma vontade de espetar com um calhau nos cornos do cromo.
O que é giro, em toda a situação, é que por alguns motivos, o gajo não me lixou de uma maneira, mas lixou de outra.
Mas haja saúde.
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