08/07/2007

Assim vão os tempos...

Um dos factos que um gajo tem de assimilar ao viver na zona histórica da cidade, é a interacção sócio-económica entre as várias pessoas que por aqui habitam.
Temos prédios a cair de podre, com malta ainda mais podre e reformas que já há muito apodreceram...
Em contraste, temos grandes condomínios privados a abrirem as suas portas ao pessoal de zonas mais abastadas da cidade que, por sua vez, querem vir conviver com os pobrezinhos e com a espectacular vista que cobre toda a cidade. Claro que também anda por aí a classe média, que se mata a trabalhar para conseguir ter uma casota alugada... ou ninho, como queiramos chamar-lhe. Mas vamos ignorar estes últimos, que são tão poucos que passam ao lado...
É então comum, termos uma casa velha seguida de uma grande estrutura de betão cujos construtores, ignorando todos e quaisquer planos municipais de ordenamento e arquitectura, fazem o favor de erguer com muralhas intransponíveis para que os que lá estão dentro se sintam mais seguros em relação aos velhotes que na rua caminham...
E assim é o espírito da cidade velha, a alma histórica dos bairros.

Hoje, como todos os fins-de-semana, fui comprar os víveres para a semana que se avizinha.
Como sou um rico burguês da classe média, como me chamam, por ter carro e andar de fato (o trabalhar que nem cão não conta), desloquei-me ao Pingo Doce, num outro local da cidade. Não vou ao Pingo Doce do meu bairro, não por ser tarado ou esquizofrénico... simplesmente há um outro que tem sempre as coisas que gosto e este não. É a vida.

Quando voltei, estacionei e lembrei-me: 'Ah, merda, esqueci-me de comprar água...!'
Bom, decidi então ir até à mercearia da esquina para comprar dois garrafões.
E lá estava.
Ia eu a entrar e a velhota a sair.
Dizendo ao dono da loja que comprava a fruta para a semana, porque também ainda não tinha recebido a reforma. E assim, hoje levava só mesmo o pacotinho de vinho para meter no guisado.

Nada de mais. Posso estar apenas a ser lamechas.
Posso estar a querer exigir demais de algo ou de alguém.

Mas confesso que me faz uma confusão tremenda o facto de estarmos a dias das eleições autárquicas.
E os candidatos pavoneiam-se pelas ruas com grandes arraiais, oferecendo febras e sardinhas...
E discutem assuntos importantes como novos hotéis, novas travessias do Tejo, novos aeroportos, novos, novos, novos...
E os velhos, que por cá andam, vão morrendo pelas nossas ruas.
Pelas ruas da cidade velha.
É o espírito da cidade velha, a alma histórica dos nossos bairros. Do meu bairro.

Cumprimentos patinos!

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