21/07/2007

Moçoilas Engraçadas

O post de hoje é diferente.
O post de hoje é acerca de moçoilas engraçadas.
O tema surgiu-me assim, sabe-se lá como... estava a pensar no que haveria de escrever hoje e logo surgiu uma Tágide - daquelas que aparecem à noite, quando estamos tristes, deprimidos e nos falta a inspiração - que me segredou: 'Ah, e tal, fala de moçoilas engraçadas!'.
Em primeiro lugar, é importante perceber o conceito de moçoila engraçada.
O Shreck dizia que os ogres eram como cebolas; tinham camadas.

Eu sou da opinião que não são só os ogres que têm camadas: todos nós temos camadas.
Ou então somos todos ogres e não sabemos.
Assim, sendo cebolas, é importante descascarmos as ditas cujas para percebermos o que é uma moçoila engraçada.
Isto há cebolas para todos os gostos.
Há cebolas de casca dura, que são umas autênticas matrafonas, mas que são óptimas para fazer infusões;
Há as cebolas geneticamente alteradas, estupidamente perfeitas na sua visão mais superficial mas que no final, nem para refogado servem - são as chamadas cebolox... e aqui, ignorem qualquer semelhança com o termo 'botox';
Temos as cebolas em vinagrete, mas essas, para além de não terem casca, são amargas, azedas... essas só servem para enfeitar o prato.
Ainda temos a cebola-alecrim. É uma espécie muito rara, proveniente das Ilhas e que não se encontra facilmente no continente. É tão rara, tão rara, que é tipo gambuzino... só com alguma sorte a conseguimos apanhar. Isto porque se mistura facilmente com os outros tipo de cebola. Também tem uma casca exageradamente complexa. Vão-se retirando cascas, cascas, cascas, cascas, e em cada encontra-se uma nova surpresa. No fundo, este tipo de cebola é como a caixa de chocolates da mãe do Forrest Gump: nunca sabemos o sabor que nos vai calhar a seguir. Bom, mas independentemente do sabor, o mesmo é sempre muito agradável. E a cebola em si, é também muito fofa. E fofa, não no sentido habitual que costumo utilizar; fofa, no verdadeiro sentido da palavra. E da cebola, também.
Claro que ainda há as cebolas porto-riquenhas. A sua grande característica é o facto de não existirem. E mesmo que existissem, nunca teriam o mesmo sabor e textura do terceiro tipo de cebolas aqui mencionadas. Claro que é apenas uma opinião, que pode ou não ser válida ou até mesmo aceite, mas é a opinião deste Pato e ele não abdicará dela.
É que há algumas das cebolas aqui mencionadas que são altamente esquivas. Têm vontade própria. Isso leva a que apesar de serem o cabo dos trabalhos, sejam muito, mas mesmo muito adoráveis... isto porque são únicas.
As cebolas falam.
Umas cebolas são mais directas e outras não. E temos as cebolas que começam a falar e, quando pensamos que irá sair alguma revelação, arrependem-se e revelam algo que já foi revelado, ou não revelam nada de todo. O engraçado é a forma como é exposta a sua inocência, a forma como agem depois de não revelar nada, como se ninguém se tivesse apercebido que iam revelar alguma coisa. É um dos motivos que as torna especiais. Mesmo quando são coloridas a preto e branco.
A cebola, na sua condição cebolesca, também conhecida por "Allium cepa Rosmarinus officinalis" é um vegetal de difícil trato. É um vegetal (bolbo, se preferirmos; acho que planta seria muito vulgar) que é efectivamente dos mais importantes à face da terra. Para além de ter características antioxidantes e favorecedoras da actividade cardíaca, possui ainda agentes anti-inflamatórios, anti-tumurais, anti-virais e imunológicos. Dizem que a sua infusão, funciona como um estimulante... Bom, uma vez mais, na minha opinião, não é necessário qualquer tipo de infusão. A cebola deixa-nos aos pulinhos qualquer que seja a sua condição porque, independentemente do modo como é descascada, é sempre estimulante.
Embora, mesmo assim, seja complicado juntar cebola a um qualquer cozinhado de pato... pelo menos, deverá ser essa a opinião das cebolas. Os patos estão disponíveis para cozinhados especiais.
Agora que penso um bocado no assunto, agradecia que não pensassem na expressão 'descascar a cebola' dessa forma. Sim, faço uma pequena ideia da cabeça que alguns dos meus leitores têm... As cebolas são plantas caladas, pouco falam, embora muito possam pensar. Calculo que gostem de ser analisadas, exploradas, descascadas, enfim... que lhes desenhem um profile das suas camadas. É por isso que as cebolas são seres complexos. Estão sempre caladas, e temos de ser nós a afastar cuidadosamente as suas delicadas e frágeis cascas para conseguirmos tentar perceber um pouco mais do que está escondido. E o receio que temos é o de danificar alguma das suas preciosas camadas ou metermos os pés pelas mãos (ou as barbatanas pelas asas) e pensarmos, dizermos ou fazermos o que não devemos.
As cebolas, mesmo que não se apercebam, são importantes. São uma componente fundamental na nossa existência.
E, de facto, ainda bem que existem na sua condição cebolesca. Tipo... não tem piada nenhuma olhar para uma maçã... Em dois minutos descobre-se tudo acerca dela. Quando é assada, mirra e fica com aquele aspecto 'bloohhh' a olhar para nós. E ainda tem de levar açúcar, para ficar um pouco mais doce.
As cebolas dão mais trabalho e, por isso, também o gozo é maior. É o desafio de descobrir a cebola. E, creio eu, perceber uma cebola é desafio para alguns milhares de anos... talvez até de existências.
Uma vez disseram-me que neste mundo, ninguém merece nada; pelo contrário, há é que fazer por merecer alguma coisa.
Realmente talvez faça até algum sentido. E por isso as cebolas são assim. Nascem assim, crescem assim, são e serão sempre assim.
Penso que por vezes poderiam facilitar um pouco mais as coisas, mas creio que deverá ser mesmo algo que pensem que devem ou não fazer; as cebolas não gostam de ser pressionadas... isso é coisa para as uvas.
Excepcionalmente, hoje demorei muito tempo a escrever o post. Na realidade, devo dizer que iniciei a sua escrita na sexta de madrugada (as insónias têm este efeito em mim). Demorei, não porque me faltasse inspiração mas, é fácil falar de muita coisa... quando se trata da cebola tudo fica mais complicado. E um Pato como eu vê-se enterrado num monte de cascas... cascas que têm de ser escutadas, lidas, processadas, compreendidas. E por vezes fica-se sem saber o que pensar, o que fazer, o que dizer, o que escrever.
Por esta altura, já três quartos dos meus fiéis quatro leitores acharam que me passei de vez. Bom, na realidade, todos os meus leitores já devem ter ficado com a ideia de que sou um Pato estranho.
Mas as coisas são mesmo assim.
Não tem piada contar histórias na forma de autobiografias, contos, romances ou policiais... acho que é sempre muito mais porreiro contar as nossas histórias na forma de metáforas (mesmo que seja acerca de cebolas). Dá gozo, porque há os que percebem e não dizem nada, os que percebem e querem saber mais, os que não percebem de todo e fingem que percebem, os que não percebem e nem sequer perguntam... ah, e os que simplesmente acham que me passei de vez... imagine-se... um Pato a falar da Cebola.
Mas acreditem, as Cebolas andam por aí.
As cebolas migram, as cebolas pensam, as cebolas aproximam-se e fogem de nós, as cebolas podem ter em nós um efeito impensável. E há até cebolas que são tão doces que seria possível fazer com elas uma sobremesa deliciosa.

Um último pensamento:
Dizem que o Alecrim é que anda por aí aos molhos e que por causa dele choram nossos olhos... mas são as Cebolas que, quando descascadas, nos fazem chorar.

Curioso, não é?

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