Bom, para quem não sabe, já temos data marcada para o fim do mundo.
Isto é um bocado estúpido. Todos os anos temos de levar com a data previamente definida para o arranque da época de incêndios; todos os anos, temos por garantida a celebração do nascimento de Jesus Cristo a 25 de Dezembro (embora digam por aí que afinal nasceu noutra altura do ano); todos os anos, sabemos que em determinado dia com uma recorrência anual, temos de celebrar mais um ano que passa após o nosso nascimento... enfim, uma série de datas a recordar.
E depois vamos fazendo planos. Escrevemos o tal livro, plantamos a dita árvore e temos um filho. Eram os três pilares básicos da existência, não eram?
Isto já para não falar no trabalho. Apressam-nos as merdas para ontem porque afinal um detalhe insignificante ganhou uma importância medonhamente grande que tornou toda a problemática daí derivada a modos que urgente... E um gajo estica-se como pode para garantir que o tempo não importa e que é contado em sub-terços de quarto de hora.
Ahhhh, é verdade! E compra-se o carro, e finalmente compra-se a casa e faz-se o que se pode para garantir o emprego que vai fornecer subsistência para os dois pontos anteriores...
E no final, quando pensamos que afinal o plano resulta, pumba, temos data prevista para o final do mundo.
Ao que parece, o mundo vai acabar no dia 21 de Dezembro de 2012. O que é chato.
Em primeiro lugar... devo ou não comprar prendas de Natal em 2012? É que se o mundo acaba a 21 de Dezembro e gasto dinheiro, acaba por ser um desperdício... e logo com tanta gente a morrer pelo mundo fora... Mas se o mundo não acaba, é uma grande merda, porque perdemos as Liquidações Totais por motivo, não de Obras, mas da Aniquilação Total da Humanidade. Agurado ansiosamente por tal cartaz na montra da Worten.
Mas enfim, afinal o mundo não acabava em 2000?
Pois, parece que não. Afinal, a Civilização Maia (não a das mamas de plástico, refiro-me aos da América) tinha um calendário mais preciso e consistente que o nosso. Daí que tenham previsto grandes acontecimentos da humanidade, inclusivamente, a chegada do homem branco à América. Só acho curioso que não tenham previsto a própria extinção aquando da chegada do tal homem branco, mas isso já são detalhes.
Então, nessa data, a Terra estará alinhada com o Sol e com o centro da Via Láctea (que como bem se sabe, é de onde vem o leite que bebemos, fruto das vacas cósmicas que têm satélites no lugar de tetas); o alinhamento levará a uma mudança brusca do campo magnético terrestre, situação que entre outros acontecimentos desagradáveis (como a Extinção Total e Completa da Nossa Existência) irá dar cabo das linhas de telemóveis, rebentar servidores como se não houvesse amanhã (é verdade... não há mesmo, lol) e parar os serviços de suporte técnico. Suponho que seja um final de tarde divertido no trabalho. Nada como dar o peido mestre a olhar para um monitor.
Acho que não é nada positivo ter data marcada para morrer. Ainda para mais quando não posso concretizar o meu desejo de morrer em grande estilo, num grande acontecimento, a solo. Se duro até 2012 e sou obrigado a levar com a aniquilação total, sou mais um entre a manada na vala comum. No dia seguinte chega a invasão extraterrestre para tomar conta disto e nem sequer podem ir buscar o meu ADN porque se encontra totalmente misturado com o cú do meu vizinho.
De qualquer forma vou meter um reminder no telemóvel. O dia do Juízo Final prevê-se curto, e como juízo já eu não tenho, tenciono acordar cedinho para não me esquecer de fazer nada.
O bestialmente irritante nesta cena toda é que as previsões podem até nem bater certo porque temos uma perspectiva egocêntrica relativamente à qual fazemos medições de tempo ao nível da Terra. O globo gira e pronto. Só que aparentemente, a Terra gira à volta do Sol que, por sua vez, gira em volta da galáxia que, por sua vez, gira em torno de outras galáxias, expandindo o nosso conceito de tempo e de espaço. Mas como usamos apenas uma visão temporal do primeiro nível, o tempo que é medido nunca é o verdadeiro, o universal, mas sim o terrestre. Assim, as previsões de tempo que são incluídas nas nossas equações probabilísticas de tentativa de nos igualarmos a um oráculo grego, dão sempre merda, variando a existência ou não de ocorrência e, em caso afirmativo, de quando esta última se processará.
Por hipótese, podemos já estar todos mortos e nem sequer o sabermos. Isso talvez explicasse o cheiro a coisa podre que emana das casas de banho lá do trabalho. O próprio rabo não aguentaria, se tivesse nariz.
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