23/09/2007

Cebolinho

Dou por mim a pensar em cebolas.
Prometi a mim mesmo não falar mais de cebolas neste blog. Acho que as cebolas não devem ser algo do domínio público, embora o público deste blog se baseie em meia dúzia de leitores. Eventualmente, haverá a possibilidade de também as cebolas o lerem. E por esse mesmo motivo procuro acautelar-me, como sempre faço.
Bom, nem sempre.
De facto, o controlo que os Patos Urbanos procuram reter nas suas próprias pessoas, culmina sempre com um descontrolo associado que lixa isto tudo.
Curiosamente, não consigo parar de pensar em cebolas.
As cebolas assombram-me, nos últimos tempos.
Acompanham-me o pensamento durante o dia e durante a noite. Durante os atarefados momentos de trabalho e nos curtos momentos de relaxamento. Tiram-me a inspiração patina, gerando um vazio e dando a forte sensação de que falta efectivamente alguma coisa. Perturbam o humor. Acha-se piada a cenas sem piada e fica-se muito sério ao ouvir uma piada que, supostamente, deveria realmente ter piada.
Não me sai da cabeça o ogre a passear no jardim dizendo "we are like onions!"; mas logo de seguida me aparece o burro a chamar-me tanso. E, obviamente, apresso-me a calar o burro, pois certamente que não terá razão.
Cheira-me a cebolas, por todos os sítios onde passo.
E garanto que, até naquela sala de servidores já senti o cheiro doce de cebolas que me levou as lágrimas aos olhos. Dizem que é do ácido. Já não sei. Mas não me parece.
As folhas das árvores que teimam em tombar sobre mim parecem-me cascas de cebolas. E sobram as árvores, nuas, quais cebolas sem casca, que contam as suas histórias em camadas.
E camada após camada vamos perguntando às cebolas em que camada se irão realmente revelar.
Mas as cebolas não respondem.
As cebolas não falam.
Afinal, as cebolas são apenas cebolas e, por esse motivo, não têm de entender a linguagem patina.
Mas os Patos são teimosos. Persistentes. Não desistem facilmente do que querem.
Os patos continuam a devorar camada por camada até conseguirem uma resposta.
Por esse motivo marram muitas vezes com toda a força numa parede. Na sua condição avícola de Patos, mesmo urbanos, ganham uma testa de galos.
Mas somos mais fortes que isso.
E continuamos insistindo no silêncio da resposta.
Só espero não vir a tornar-me num Mike.

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