11/09/2007

Mais coisas.

"O mundo é um local estranho", dizia alguém.
Um tipo nasce e nunca sabe ao que vem.
Não nos perguntam se queremos nascer, não nos dizem onde vamos viver, nunca nos referem aquilo pelo que vamos passar.
Vir ao mundo é um bocado naquela onda de contrato maléfico. Estamos a vender-nos à humanidade, somos mais uma alminha a habitar nestes recantos; sabemos disso e, mesmo assim, assinamos e nascemos.
E depois é engraçado. Não nos lembramos de porra de três quartos da nossa vida até aos 4 anos mas, curiosamente, do que nos lembramos é sempre da malta a olhar para nós com um ar parvo. Ou então lembramo-nos do nosso avô a sair mais cedo do trabalho para ir passear connosco até à outra margem do Tejo. Recordamos alguns dos bons e maus momentos passados com a família, mas só mesmo alguns. Por vezes fico com a sensação que me fizeram uma lavagem ao cérebro e limparam alguns episódios da minha infância.
Ao chegarmos à idade adulta, assumimos o que já tínhamos percebido em putos: somos insignificantes.
A nossa existência acaba por não servir para absolutamente nada. Fazemos algumas pessoas felizes, outras infelizes, e acontece-nos o mesmo. É um ciclo vicioso.
Somos pedaços de matéria atómica agregada em formas, aromas e sabores. Atiram connosco para o balde e a malta que se amanhe. Um dia, voltamos ao estado de matéria pura.
Há ainda a questão da alma, para os que a têm.
Sim, de facto, é algo que não sei bem como explicar.
Atribua-se então a explicação para os lados da Fé.
No fundo, é um bocado assim. Gostamos de ser o Centro do Universo.
Somos os mais inteligentes, os mais sábios, a Grande Entidade Humana. Tudo o resto não existe, certo? É essa a onda.
Assim, procuramos explicar tudo o mais racionalmente possível e, o que ainda não sabemos, destacamos para o Misticismo. Um dia, arranjaremos explicação para tudo. E ficamos todos contentes.
O que será melhor? Um pai dizer ao filho que o Pai Natal existe, proporcionando-lhe anos de alegria natalícia e risos nervosos à mesa da Ceia de Natal ou, por outro lado, evitar o Grande Choro da Desilusão explicando-lhe que o Pai Natal se chama na realidade Subsídio de Natal? Fixe, não é?
Como aquelas merdas... na verdade, o Pai Natal veste de castanho e é representado com um cálice de vinho quente na mão. Os tipos da Coca-Cola deram a volta à imagem e vestiram-no de vermelho. Que giro... Felizmente os gajos da Pepsi não tiveram a ideia antes, senão agora tínhamos um Pai Natal que mais pareceria o Monstro das Bolachas.
E estragamos os planos a muita gente. Havia um gajo na minha rua que dizia que eu era estrábico. E uma professora na pré-escolar que achava que eu era atrasado.
Eu explico.
Na escola, à saída da sala de aula, havia um corredor comprido. Ao fundo, havia duas portas. A da direita era a da sala de judo; a da esquerda, era a da casa de banho. A prof mandava-me sair da sala e virar à esquerda para ver se eu sabia distinguir... só que eu virava sempre à direita.
Que merda! Se não me apetecia fazer nada, por que raio haveria eu de entrar na casa de banho??? E era naquela... cagava no que ela dizia e virava à direita porque achava piada aos tipos a lutar.
Afinal parece que não sou atrasado.
Tenho alguma deficiência, é verdade, mas fui-me fazendo assim.
Um dia acordamos e percebemos que isto é de facto uma grande merda.
Já não somos putos, mas também não somos velhos.
Estamos a mais de meia idade da idade de casar e ter filhos. Constituir família e convencer mais alguém a vir ao mundo.
Escrevemos um livro (ou um blog, tanto faz), plantamos uma árvore e temos um filho.
É esse o plano.
Ou não.
Percebemos que a meia idade da nossa idade útil estamos afinal sozinhos.
Começamos então a nossa psudo-vida de solteiro. Um gajo aprende a cozinhar, a cuidar da casa, trabalha, estuda, torna-se auto-suficiente. Falta sempre qualquer coisa, é verdade, mas aprendemos a perceber que a vida é um jogo de cartas. Viramos uma... avança 2 casas; viramos outra... recua 3 casas. E andamos assim, neste conflito existencial, tentando perceber o quê, como e porquê.

Sim, é verdade. O Gandalf dizia que desde que nascemos, temos um tempo útil na terra. Só nos seria permitido escolher o que fazer com o tempo atribuído.
De facto, a vida baseia-se em opções.
Detalhe: também nunca ninguém disse que a vida era justa.
Desta forma, há sempre a malta que nasce para enrabar e o pessoal que nasce para ser enrabado.

Boas Noites!

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