14/11/2007

beijos

Creio que já referi a problemática dos beijos algures. 'Algures' no sentido bloguesco. Felizmente a minha memória é boa e tenho uma excelente capacidade de me fazer de parvo. Assim, sei exactamente onde o referi. Mas, para quase todos os efeitos, não me lembro.
Como tal, esta noite, gostaria de focar um pouco mais esta situação.
Sou um pato dos novos tempos. Quando andava na escola, a malta tinha o hábito de cumprimentar as meninas com um beijo. Sempre foi uma cena que me fez alguma confusão. Muitas das vezes (o melhor seria dizer sempre) eu simplesmente fazia-me de desentendido e 'não percebia' que estavam a aproximar a cara para levarem mais um beijo. E, muitas das vezes, a sempre atenciosa malta fez questão de me chamar paneleiro...
Reparem... um beijo, e embora muitas vezes desprezemos isso, é algo único. Reparem ainda que, por muito que tentem, nunca conseguem dar dois beijos iguais. É algo que não é de todo possível.
Assim, um beijo, nunca é sempre o mesmo beijo. E por isso mesmo, é único. Indivisível.
Mas, estupidamente, o mais vulgar é uma pessoa encontrar alguém na rua e, mesmo que se cruzem apenas uma ou duas vezes ao dia, mesmo sem nenhum tipo de ligação afectiva, toca a cumprimentar com um beijo. E, ao atendermos o telefone, um beijo. E vemos aquela vizinha irritante que aparece no prédio duas vezes por ano... e também ela quer um beijo. E nos emails, e nas sms's... e a malta está sempre a mandar beijos. E o mais chato é que se nos mandam um beijo e depois não retribuímos, os tarados somos nós.
Um beijo, é algo muito nosso. Independentemente do tipo de beijo e da localização do mesmo, é um pouco de nós que concedemos a alguém por quem efectivamente temos afecto. Afecto, nos vários sentidos. Pode ser um afecto familiar, o afecto que temos por um(a) amigo(a) ou até mesmo um sentimento bastante mais profundo. O facto é que, um beijo nunca é simplesmente um beijo. E normalmente tendemos a trocá-los como se de sacos de supermercado se tratassem.
É um pouco hipócrita. Mandamos beijos mas não os sentimos verdadeiramente. Então, para quê mandá-los? Se é algo assim tão superficial, mandem-se cumprimentos, respeitos, o que quer que seja. Mas paremos com a história dos beijos.
Afinal, quem nunca quis dar ou receber aquele beijo especial da pessoa especial. É mais do que uma questão de lábios, pele e saliva (ou mesmo língua... como preferirem). A ideologia do beijo é uma questão bastante mais complexa. E, na realidade, ao atribuírmos beijos à toa, sem qualquer tipo de significado, caímos no erro de banalizar o conceito.
Os conceitos que se tornam banais são um perigo. Na verdade, deixam de ter qualquer tipo de significado.
O Carolino (o psicopata da 'Aparição') tinha alguma razão quando referia ao Professor que, se repetirmos várias vezes a mesma palavra, a mesma deixa de fazer sentido.
Vai um teste. Procurem dentro do vosso eu o mais profundo significado que conseguirem para um beijo. Agora comecem a repetir para vocês mesmos a palavra 'beijo'. Beijo, beijo, beijo, beijo... estranho, não é? As letras começam a confundir-se e a deixar de gerar a palavra no seu todo.
O mesmo acontece com o fabrico de beijos em série.
Penso que há que encarar um beijo não como algo abundante, mas sim como um recurso raro, que é necessário gerir muito bem.
Aconteceu há algum tempo com a expressão 'amo-te'. Ya... telenovelas, restaurantes... palavras ditas sem qualquer sentido para aqui e para ali. E agora não é mais que um amontoado de letras que normalmente se diz sem se sentir verdadeiramente o que seria suposto sentir.
E consigo lembrar-me de mais um ou dois termos que perderam totalmente toda a veracidade de factos.
Ainda os beijos. Tipo... ok, não me chateio que a malta não compreenda. O que me chateia é que, no final de contas, quando quero enviar um beijo a Alguém mesmo especial, sinto muitas vezes que o que estou a fazer é enviar algo tão banal, como se fosse um simples 'bom dia'. E não é de todo esse o sentimento enviado.
Neste ponto do post muito provavelmente já estarei a ser chamado de doido... é o habitual. Eventualmente um(a) ou dois(uas) leitores(as) compreenderão o que quero dizer (espero...). Mas a grande maioria achará simplesmente que sou doido.
Não condeno ninguém. Quero apenas fazer valer a minha opinião e reforçar que, um beijo enviado por mim, não é apenas um beijo. É algo que só ofereço a quem tem realmente um significado especial para mim.
Mas é somente uma opinião. Não passo de mais um doido que anda por aí...

Cumprimentos Patinos!
(já agora, lokj4U)

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