A crise parece ser algo passageiro.
Consta que tem picos de tensão, onde a malta fica apertada.
Na realidade, é uma falsa realidade ao alcance apenas de alguns. Para muitos outros, a crise é, efectivamente, a realidade diária.
Confesso que me chateia um bocado ver as pensionistas, todos os finais de mês, a arrastarem-se para a Caixa Geral de Depósitos, mais com o intuito de falarem um pouco com o funcionário do balcão que para receberem a miserável quantia mensal que lhes está destinada.
Contudo, o aperto mensal das velhotas fá-las ser capazes de merdas que muitos nunca julgaram possíveis.
A sério. Elas arrastam esquentadores inteiros até à loja de ferragens de bairro mais próxima para comprarem um parafuso, para depois recolocarem o parafuso sozinhas, juntamente com o esquentador... porque um parafuso sai bem mais barato que um canalizador. Colocam torneiras, mudam os vedantes... e até já as vi pintar.
Em nome da reparação da casa semi-apodrecida onde vivem, elas só têm mesmo a opção de fazer a reparação sozinhas. Não há ajudas.
Da próxima vez que entrarem numa loja de ferragens, reparem na velhota ao canto do balcão. Há sempre uma, e a fazer um pedido com uma exactidão técnica que envergonharia muitos profissionais.
Elas sabem a dimensão do diâmetro dos canos, conhecem as colas e tintas, reconhecem a dimensão dos parafusos. Fazem os furos nas paredes com um preguinho e um martelo, reparam o excesso e no final ainda pintam.
Malta com mais do triplo da minha idade. Mas é fascinante.
Enquanto uns fazem a festa, ganham um valor mensal obsceno e pedem maiorias, elas reparam a casa. Sozinhas e com a merda de reforma que os primeiros lhes dão.
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