05/11/2007

Como dobrar cuecas de renda

Agora que já atraí a vossa atenção, posso continuar a dizer as minhas coisitas sem sentido.
Hoje, já no final da tarde (ou seria no início da noite?) andei pelos lados do Calvário para me encontrar com um amigo.
E isto há merdas que deixam um gajo mesmo queimadinho dos cornos.
Ia eu descendo uma rua qualquer que vem desde uma rua que desce da Ajuda até ao Calvário (ignorem... caguei no nome da rua) quando vejo uma idosa subindo a rua. À hora a que passei ali já estava frio para caralho, não tanto como dentro da sala de servidores, mas já era um frio razoável. E a mulher lá ia, rua acima, mais devagar que um caracol, com uma canadiana (e por que chamam a essas merdas 'canadianas'?) enfiada num dos braços e a mala do outro lado.
Epa, é que parecem seres tão frágeis... tipo crianças. Não faz sentido que pessoas assim sejam obrigadas a andar sozinhas. A solidão é um castigo mesmo fodido. É certo que há muita gente que poderia merecer alguns castigos. Falo no condicional, porque não me cabe a mim julgar ou deixar de julgar as pessoas. Talvez mereçam... ou talvez não. Talvez perto do fim, todos se apercebam das asneiras que fizeram ao longo da vida. Será sofrimento que baste? E se não for? E será justo castigar aqueles que fazem sofrer, com mais sofrimento? Assim sendo, o que somos nós?
Todas estas merdas me passam pela cabeça enquanto estou parado na passadeira e a ver a velha a subir a rua.
Como a 'santa' que tenho por aqui.
Terá já sofrido o bastante? Deveria ter sofrido? Não levou já com o castigo todo? E valeria a pena ser assim castigada? Mesmo fazendo-me a vida num inferno a pontos de só me dar vontade, todos os dias sem excepção, de me atirar para a frente de um camião ou da janela abaixo, é um ser humano, certo? E eu também não sou nenhum santo. Nunca fui.
Fui um puto fodido quando era mais pequeno. Fui um tipo arrogante durante a adolescência. Devo mesmo dizer que em muitas ocasiões fui um verdadeiro cabrãozinho. Eventualmente está por aí um bom motivo para só ter guardado dois ou três bons amigos ao terminar o secundário. Eventualmente, não tivesse eu atinado e alterado um pouco o meu feitio e não tinha ganho os amigos que tenho agora. Eventualmente, a merda que fiz durante uns 18 anos, poderá ser o motivo para algumas penitências que ando agora a pagar.
Mas a grande questão, é que durante breves instantes, até a cabra que tenho caída no sofá me parece tão insignificante, sofrida, castigada, que... tenho pena dela.
Há pessoal que não entende. Atrás de um pato normalmente calado, que sempre que abre a boca diz um disparate qualquer, está um pato que tem os seus problemas. Conta piadas porque de outra forma não conseguiria sobreviver ao dia-a-dia. A rotina é saudável, tranquila e controlada. Mas, por outro lado, o saber todas as manhãs, o que me espera até ao final do dia, deixa-me completamente doido. Todas as manhãs me levanto e sei o que vou fazer; sei o que me espera, as surpresas que não vou ter, aquilo que vou jantar. Sei ainda, que terminarei o meu dia algures por aqui, neste meu recanto isolado do mundo, a 'bloggar' mais um bocado. A escrever histórias que nem ao menino Jesus interessam... há de facto pessoal que não entende muitas coisas. Se calhar também eu nunca procurei ser entendido. Um gajo erra muitas vezes. As consequências dos nossos actos podem até demorar a chegar, mas chegam. E quando chegam, lixam-nos. Os patos não gostam de ter um ar sisudo, os patos não gostam de passar três quartos do dia sem abrir a boca, os patos não gostam de solidão e mantém o seu ar duro e inabalável por um único motivo: o mundo é uma merda onde viemos cair; os nossos pontos fracos são analisados pelos que nos rodeiam até ao extremo. Se detectam uma falha na nossa pessoa, aproveitam-na para a corroerem totalmente. Não vou nisso. Poucos me conhecem, ainda menos me entendem. Os patos são assim.

4 comentários:

Anónimo disse...

Olá Pato Marques

A verdade é que é nesta vida em nada se cria, nada se perde e tudo se transforma e que tudo o que se faz, cá se paga. A vida são as férias que a morte nos concede. A eternidade está na morte, não na ou, em vida. Quando acabamos as férias regressamos às origens. Hoje um amigo meu que tanto lutou na vida e nunca baixou os braços terminou as férias dele e regressou.

Amanhã é outro dia e o sol vai voltar a nascer, lindo e radioso. Cabe-nos a nós apreciá-lo e aproveitá-lo enquanto estivermos de férias.

Um abraço

Pato Marques disse...

Ah ah, ah ah...
Foda-se.
É profundo, sem dúvida. Até a cena toda das 'férias'... fixe.
Detalhe: Para mim é sempre de noite e se isto são férias...

Anónimo disse...

Não chores porque não vês o Sol porque as lágrimas não te deixarão ver as estrelas. Até a noite tem encantos.
Aprecia-a.

Pato Marques disse...

Caramba, Pato Net... essa conversa já parece é conversa de Pata...