Subitamente, o país acordou para o maravilhoso mundo das águas 'gourmet'.
Andamos a exportar para todo o mundo e somos campeões de vendas desta pequena e singular maravilha.
Passamos então à parte mordaz.
Há muitos anos, andavam os Romanos nesta província que é hoje Portugal, e descobriram uma fonte, no actual Algarve (ou All-Garve, segundo se diz agora), cujas capacidades mágicas de cura da sua água relativamente a problemas de estômago a tornaram famosa em todo o mundo romano.
Os tipos ainda não sabiam mas, séculos mais tarde, percebeu-se que a água não era mágica mas sim bicabornatada-sódica que, para quem não sabe, é um bálsamo para os problemas de estômago.
Então, os nossos amigos romanos fizeram uma estrada (giro... pareciam o Cavaco nos seus tempos de Primeiro-Ministro) e construiram umas termas na região.
Estavam então na Serra de Monchique, pelo que foi coerente darem o mesmo nome às Termas e, consequentemente, às águas.
Séculos depois, já na Era da Abundância Norte-Ocidental, andavam os putos na Etiópia a voar, arrastados pelo vento, e os mancebos congoleses a matarem-se uns aos outros com a falta (imagine-se!) de água, quando as Termas de Monchique se tornaram num ícone capitalista e começaram a sua guerra de distribuição contra os clãs do Luso, Gerês e afins.
A água, curiosamente, era mesmo muito boa.
As suas características particulares conferem-lhe um gosto único, ligeiramente adocicado, muito semelhante ao conseguido quando bebemos pelo gargalo de uma dada garrafa muitas vezes seguidas sem a lavar. Sabe a lábios. E a língua. Mas se não pensarmos muito nisso e ignorarmos a malta de África, a água até consegue ser boa.
Também muito curiosamente, era das águas mais difíceis de encontrar no mercado.
No All-Garve abundava mas, em Lisboa, era uma merda para a encontrar. Ah, e os putos em África continuavam a morrer de sede.
Mas, ao que parece, os chefes do clã de Monchique não estavam muito virados para o comércio geral e decidiram lançar-se no infinito.
Fizeram umas garrafinhas fofas, encheram-nas da mesma água que outrora era despejada para garrafões plásticos de 5L e pumba: água gourmet.
Uhhhhhhh! Brutal!
Então, começaram em apoteose a heróica luta de levar a dita água aos países mais desenvolvidos e ricos do planeta. Aparentemente, parece que é mais rentável adocicar a boca a um qualquer cabrão que vive à conta do trabalho de 300 putos enfiados numa fábrica durante 20 horas do dia, que matar a sede a uns milhões de desgraçados (deve ser a Justiça Divina a funcionar no seu melhor).
Ignoro o value-by-bottle, mas sendo a água a mesma, mandava os gourmet levar na peida e ia buscar a água eu mesmo as termas...
Entretanto, os putos africanos podem sempre aguardar ansiosamente um vento de sul que os traga até Monchique para matar a sede. Irónico seria o vento mudar a meio caminho e morrerem afogados no Atlântico...
Portanto, a água é a mesma, o que a torna especial é a embalagem.
Esta forma de pensar é triste. Devo ter passado 24 anos enganado...
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