08/09/2008

happy nights














Definimos sanidade como sendo "qualidade do que é são".
Em grande parte sempre achei que entre outras coisas, a sanidade mental se mantinha minimamente com uma noite de sono.
Durante os anos da faculdade, até terminar, sonhava com o dia em que terminaria e deixaria de ser trabalhador-estudante; sonhava com o dia em que chegava a casa depois do trabalho e poderia relaxar e descansar.
Então, acabei a faculdade e percebi que não iria ser assim tão simples. Porque depois as noites de sono não são contínuas, e porque damos por nós a fitar as luzinhas que passam pela janela do quarto e ficam a brilhar no tecto do quarto. E depois damos também por nós a adormecer e a acordar de seguida. E conseguimos ainda assistir ao fascinante mundo dos ruídos silenciosos que ecoam nos nossos ouvidos entre as 3 e as 4 da manhã... o tic-tic do relógio, o suave zumbido do router que continua a trabalhar sem parar durante toda a noite, a água que corre nos canos da casa ao lado quando o vizinho está indisposto, o miar do gato no telhado da casa no fundo da rua... até mesmo o alarme do quartel dos bombeiros, algures, cinco quarteirões mais acima.
Apesar de não se ter uma noite descansada e termos de preparar o dia que se segue, com mais 8 horas de código binário a passar-nos à frente dos olhos a alta velocidade, acabamos por perceber que vamos mesmo ficar de barriga para o ar a fitar o infinito da placa do último andar.
Mas ao menos, estamos deitados. Acordamos já acordados, tendo o prazer de ver o nascer do sol que surge, aos poucos, em algum sítio do horizonte que não vemos.
Até conseguia compreender isso.
O que já roça ligeiramente a loucura total, é deixarmos de dormir 2, 3 horas por noite, para passarmos a dormir 0 horas por noite.
Alguém nos chama às 2 e pouco para aquecer água para o saco; alguém nos chama às 3 e meia para irmos buscar um iogurte porque lhe deu o apetite durante a madrugada; alguém vai à casa de banho às 5 da manhã e esborracha-se a ela, ao camiseiro e ao toalheiro no chão da puta da casa de banho. E alguém faz isto dias e dias a fio.
Começo a achar que já não vale mesmo a pena deitar-me. Não dormir por não dormir, e creio que sou bem mais produtivo à frente do computador... mesmo depois de passar aquele ponto em que patinhos pretos (ou serão pontos?) viajam à frente dos meu olhos raiados de sangue.
Durante o dia não tenho sono. A cafeína tem este efeito fantástico numa pessoa. Basta um café bem forte de manhã, antes de ir trabalhar, e conseguimos manter-nos em pé, debaixo do gelado ar-condicionado, cortando as mãos num cabrão de um bastidor carregado de cabos de rede e servidores.
Hoje, temos mais uma noite.
Entre um diz que publica qualquer coisa num blog de merda e a atenta análise de mais uns quantos episódios dos Ficheiros Secretos, conseguimos ainda adiantar mais umas quantas merdas para o dia seguinte (que entretanto já começou) ansiosos para que nos chamem viciados em trabalho.
Estou então algures no carro, fazendo uma visita ao meu segundo Inferno. Se isto hoje correr bem, em breve estarei em casa, pronto para mais uma daquelas noites. E madrugadas. Até à manhã seguinte.
Foda-se.

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