13/09/2008

marés-vivas

Sou um tipo com bastante sorte, considerando que o meu círculo de amigos assenta sobretudo em pessoal com algum cérebro e que, para além de conseguirem gerar conversas altamente interessantes, originam-me também frequentes diarreias mentais que se prolongam pela minha madrugada fora.
Aproveitei para ir com mais uma mente brilhante, almoçar a uma cena nova de Hamburguers Gourmet... ignorando esta espectacular descrição daquilo que é um novo tipo de fast-food semi-saudável e estando nós na fila de 20 pessoas esperando a nossa vez, o gajo atira-me com uma do género:
"digo-te isto porque és um puto relativamente novo... sabes que é preciso encontrar o nosso caminho".
Certo, eventualmente poderiam achar que era uma conversa completamente arrabichanada, mas não se esqueçam que desconhecem todo o restante contexto em que isto vinha inserido.
Há dois tipos de pessoas no mundo. As que se deixam levar pela maré, fazem a sua vida agarradas ao que conquistaram e seguram-se ao seu galho da bananeira. São normalmente pessoas felizes, embora não totalmente realizadas; contudo, a força com que se agarram ao galho gera capital, pelo que também não se preocupam muito com isso; depois temos as pessoas que procuram trilhar o seu próprio caminho, mesmo que isso implique atravessar montes e vales, remando contra uma maré de lava ardente. Estes, são tipos mais realizados, embora mais cansados, provavelmente mais infelizes, porque procuram ir sempre mais longe... desafiar o impossível. Também é provável que tudo isto gere alguma felicidade mas, se a felicidade pudesse ser comprada (o que duvido) estes gajos estariam na merda.
Depois de me expor esta longa e demorada teoria (já tínhamos 'perdido' 10 pessoas na fila), de forma mais ou menos animada, lança-me a questão final, à laia de desafio, mas em simultâneo como um conselho para o futuro:
"E tu, já definiste o teu caminho? Devo dizer-te que é difícil, eu próprio tenho esta idade e às vezes ainda hesito..."
Epaaah... "E com essa me fodeste", pensei, sempre absorto na mais profunda de todas as minhas convicções e crenças.
De facto, procuro mais.
Não faz parte da minha natureza, ficar à espera que chovam gotas de mel vindas do espaço exterior e se esborrachem, quais gotas de chuva, a meus pés. O objectivo é mesmo o desafio. Por muito pessimista que seja, creio que é esse lado negro de ver as coisas que me faz tentar trilhar um caminho.
Nem que seja para provar a mim próprio que estava errado, mesmo naquela de conseguir chatear alguém, eu próprio se for caso disso.
O importante é mesmo é ter força para fazer algo tecnicamente impossível, acreditando ao mesmo tempo que tal força não existe.
É algo complexo. De repente parece-me a resolução daquelas matrizes que a malta estudava em Álgebra Linear... tínhamos a certeza absoluta que estava tudo fodido à cabeça mas lá íamos, enveredando por um caminho cada vez mais sinuoso, por folhas e folhas recheadas de rabiscos esborratados de grafite, até constatarmos que, efectivamente, a equação era não só possível como (imagine-se) tinha solução!
E então, mesmo por breves instantes, éramos felizes. Éramos os donos do mundo, concentrado única e exclusivamente numa matriz de linhas e colunas (obviamente) que olhava para nós, desafiando-nos, na folha branca do exame.

Último detalhe do dia.
Telefonei ao noivo, esta tarde...
"Paaaahhhh, tudo??? Desculpa incomodar... mas de repente fiquei confuso... o casamento é sábado ou domingo??" (ando a falar disto com ele quase diariamente, desde há duas semanas para cá)
"Foda-se... 'migo, tás todo queimado! Podes ir para lá no sábado, marcar lugar; eventualmente vais é encontrar outras pessoas..." (gajo com sentido de humor...)

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