08/07/2008

brasas

O porco, enquanto elemento crítico da existência, desenha-se como a criatura completamente fundamental para a eliminação da nossa existência.
Não estou a ver outro animal cuja existência permita o consumo directo de todo o seu ser. Desde a ponta do focinho até ao extremo do rabo, tudo serve de alimento.
Na minha próxima vida gostaria de ser um porco. Serviria ao menos para alimentar durante alguns meses uma família birmanesa ou etíope.
A condição de porco torna-se fulcral para a manutenção de todo o ecossistema.
Tive o privilégio de poder observar no fim-de-semana, o escorrer da gordura das costeletas na brasa.
Para uma costeleta, deverá ser uma forma deprimente de morrer. Secando, ao quente do braseiro, enquanto toda a sua gordura acumulada derrete para o fundo da fonte de calor; rebentamentos assíncronos da gordura, fazem-na explodir em todas as direcções, até a costeleta se encontrar pura, vazia de tudo o que a compõe.
Quero manter a minha leve e vaga sanidade mental para pequenas operações que tenho de fazer... mas isto complica-se.
Estou neste momento a ver novamente os gnomos. Estão espalhados pelo quarto, esventrando-se alegremente.
Que se foda... deixá-los estar.
Imagino-me uma costeleta. Solitário, no fundo da grelha, cozinho lentamente o meu ser... lentamente o suficiente para me dar conta de tudo o que fiz e do que deixei por fazer. As extremidades dos ossos começam-me a esturricar. A carne, por outro lado, vai perdendo a tonalidade viva, para dar lugar a uma visão mais cozinhada das coisas.
Sejam bem-vindos ao fundo da grelha.

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