08/07/2008

férias (dia 2 de 6)

Coisas novas.
A minha santa avó, borrou-se durante o almoço.
Não é nenhuma metáfora, cagou-se mesmo, borrou-se, desfez-se em merda.
Recordo-me de três vezes em que isto aconteceu.
Da primeira, ainda andava, começou a borrar-se no primeiro andar e foi deixando um rasto de merda até ao terceiro; da segunda vez, deixou um rasto de merda entre a sala e a casa de banho; hoje, cagou-se toda à entrada da casa de banho.
Ninguém acredita quando o afirmo, mas a minha vida é mesmo uma vida de merda.
E depois fica muito assustada (assustado fico eu, nunca vi tanta merda junta), treme aflita por todo o lado e geme... "Paaaahhh, cagaste-te pronto! Caga nisso!"
Mas não... chora, treme, geme, chora e volta a tremer.
Meu Deus, era um cheiro tal que abrir as janelas não resultou. Queimei vários paus de incenso pela casa fora até abafar isto. Quando saí já o cheiro tinha desaparecido.
Depois de se lavar, dei por ela sentada na sala apenas com um robe (semi-aberto) a cobri-la.
"Tipo... vó, vais ficar assim?"
Como é uma cabra orgulhosa que passa a vida a dizer que não precisa de mim para nada, não conseguiu ir buscar roupa e também não ma pedia.
Como sou um estúpido que pensa mais com o coração que com o cérebro, ainda estive a vesti-la e a deitá-la na cama.
Foda-se. Eu não peço muito. Queria uma vida normal, como a que os rapazes da minha idade têm... Suponho que seja pedir muito. Tenho de me conformar com o facto de que estou fodido e vou continuar fodido.
Vou acabar os meus dias internado, ainda jovem, mas com aspecto de um velho louco, sozinho no asilo, completamente mijado e abandonado a um canto.
Estou positivamente surpreendido com a eficácia do Serviço Nacional de Saúde.
Fui ao centro de saúde da zona hoje de manhã. Para além de não haver praticamente ninguém na sala de espera (era só mesmo eu...) consegui consulta na médica de família para o mesmo dia!!! Uhhhhh...
Bom, na realidade fiquei assustado. Os velhotes que andam sempre por lá... terão morrido?
De qualquer forma, foi positivo.
De facto, já não metia os pés no centro de saúde há muito tempo. Os seguros de saúde têm destas coisas e, coerentemente, estamos bem mais seguros numa clínica privada que num hospital público.
Felizmente em breve poderemos escolher o país da União Europeia onde pretendemos ter cuidados médicos... creio que se vai resolver o problema da falta de médicos em Portugal.
Encontro-me agora na sala de espera do centro de saúde da Graça (extensão das Mónicas). Adoro o conceito de o Centro de Saúde da Graça ser na realidade um conjunto de pequenos centros de saúde... o principal fica na Baixa, e este, na Graça, é uma 'extensão'. É coerente.
Estou na sala de espera a escrever no portátil.
Isto chega a ser curioso. A sala está à pinha e a malta olha para mim com um ar reprovador. Esta malta nova, com portáteis, inúteis de merda... estes jovens de agora, que não fazem nenhum... só sabem teclar, teclar, teclar... por isso é que o mundo anda como anda.
É engraçado... já não me lembrava como isto é divertido. Olho à minha volta e mesmo com todos os meus problemas, esta malta parece bem pior. É complicado encontrar um que não esteja com ar de quem está a morrer. Com alguma sorte apanho aqui uma infecção e a minha existência fica reduzida a uns parcos meses.
Cheira a doença, cheira a morte, cheira ao fim da existência.
Como me divirto no médico!
Parece-me que ao fundo da sala está um tipo sentado, de capa negra e uma foice na mão...
Acabou de se sentar um velhote ao meu lado. Meu Deus, o gajo sua e geme. E está muito quieto. Pergunto-me se estará morto.
A espera parece que vai ser longa, como é já habitual.
Para agravar, hoje é dia 8, dia de ir ao festival das rendas.
Se não morrer de infecção na sala do centro de saúde, há sempre a pequena hipótese de morrer esfaqueado na sarjeta dentro de algumas horas.
Porreiro.
Dia 2. Tudo fodido.

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