03/01/2009

carros

Hoje, ao volante, reparava num gajo que ia à minha frente.
Bom, na realidade não ia bem à minha frente. Ou, pelo menos, o carro ia, mas não o condutor.
Há uns tipos por aí que, por motivos que permanecem obscuros para a minha pessoa, não mantém a cabeça atrás do volante, mas sim atrás do rádio.
Pergunto-me para que raio querem eles um airbag... eventualmente esperam que o cd que está a tocar seja almofadado ou cena parecida.
Portanto, tentando perceber bem o núcleo da questão: da cintura para baixo, mantém-se no lugar do condutor; depois, a coluna faz uma diagonal que se prolonga acima da alavanca das velocidades, esticando o braço esquerdo sobre o volante e o direito a segurar o travão de mão... sabe-se lá quando podemos precisar de o utilizar em andamento, não é?
O meu carrinho continua a fazer das suas.
Liguei-o e... nada.
Tipo, mas o carro está ligado? Hum, parece que sim, pelo menos consigo ouvir o motor; mas... não falta nada? Uma merda iluminada à minha frente, talvez?
Pois, por um motivo que não consigo justificar, o computador de bordo parou, simplesmente... nada de velocímetro, conta-rotações, indicadores luminosos ou qualquer sinal de vida no interior do carro, à excepção do leitor de cd que continuava a tocar como se não houvesse amanhã... cinco minutos de palavrinhas meigas e, estupidamente, voltou a funcionar como se nada fosse.
E são estas merdas que acontecem, que me fazem fazer figura de idiota quando levo o bolinhas à Opel...
"Ouça... o gajo parou, simplesmente!"
"De certeza que foi este carro?"
Curiosamente, e percebendo que o problema estaria no computador de bordo, ocorreu-me utilizar a primeira regra dos sistemas informáticos. Desliguei o carro, saí e voltei a entrar. Giro, não funcionou.
O que tem alguma piada no meio disto tudo, é que apesar de o carro me dar conta do juízo nos momentos mais marados, não seria capaz de o trocar.
Aquele olhar doce com que os faróizinhos me fitam quando está com o depósito do limpa-vidros vazio, ou o martelar ternurento dos quatro cilindros quando entra finalmente em velocidade de cruzeiro... ou até mesmo a birra do auto-rádio sempre que forço um bocadinho mais aquela segunda.
Obviamente que isto não invalida que a ideia de poder ter um problema mais grave enquanto faço uma viagem na auto-estrada me assuste um bocado... mas é um risco que estou disposto a correr (embora possa terminar a voar num viaduto... mas também, sou um pato, certo?).
Hoje fiquei também a pensar com algo que me disseram.
É daquelas coisas que me custam sempre um bocadinho a digerir no momento, mas que depois se tornam claramente lógicas...
A nossa vida, é como uma viagem num autocarro urbano.
Quando somos pequenos ovos, usamos o "banco dos palermas" no fundo do autocarro. Somos anónimos e nem nos preocupa que sejam os lugares mais desconfortáveis.
Depois, em algum momento das nossas vidas, começamos a usar os lugares da frente, perto dos velhotes, talvez por nos sentirmos mais confortáveis perto daqueles que poderiam ser os nossos avós.
Então, um dia, mudamos para os lugares centrais, começamos a conviver, a socializar mas não esquecemos que nos encontramos perto da saída, prontos a saltar para a liberdade.
Uma bela manhã, damos por nós a conduzir o nosso próprio autocarro. Mesmo que esse autocarro seja o nosso Opel manhoso de primeira série. Mesmo que estejamos atravessados, a conduzir o bolinhas com a cabeça debaixo do espelho retrovisor...

Momento deprimente: acabei de receber um convite para uma rede social chamada 'gaylog'... :'(

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