31/01/2009

nostalgia

Quando era pequeno, o meu herói de livros de puto era mesmo o Petzi.
Aquele urso era brutal... filho de pai incerto (o tipo nunca aparecia nas histórias) e com uma pandilha de órfãos casapianos que andavam sempre metidos em casa dele, as histórias até eram muito fixes.
Uma das aventuras era passada no Monte Everest, onde o Petzi e a malta faziam um boneco de neve.
Achei tanta piada a todo o conceito que, chateei os cornos a toda a gente para ir ver a neve. Então, lá fomos numas férias de Páscoa ver a neve à Serra da Estrela, indo a minha Mãe preparada para me fazer um boneco de neve, e a minha avó com uma saqueta com uma cenoura e duas azeitonas para lhe fazer a cara.
As coisas não correram exactamente como esperado... um forte nevão impediu-nos de chegar à Torre e a brincadeira foi feita à beira-estrada... por outro lado, a minha Mãe bem tentou, mas o boneco não era exactamente como aqueles grandalhões que vemos nos filmes (e nos livros do Petzi); as mãos geladas dela já só conseguiram fazer um bonequinho com uns 30 cm de altura... um boneco pequeno, mas muito orgulhoso dos seus olhos e nariz! Creio que nunca mais lá voltei.
Nessas mesmas férias, tive uma das grandes desilusões da minha incapaz vida.
Eu, como todos os ovos da minha idade, tinha uma chucha... já não me lembro bem, mas ela até tinha um nome... Estrela, Estrelícia...? Algo parecido.
Só que chegou o dia em que eu tinha de deixá-la. A minha Mãe lá me convenceu a deixar a chucha em casa e quando voltasse da Serra ela lá estaria no armário, guardada, à minha espera.
Ela ficou e eu parti. Mas quando voltei, ela já lá não estava. Depois disseram-me que tinha ido embora, para outro menino. Durante anos achei que a chucha tinha sido uma grande vaca, porque andava na boca de todos. Mas acabei por compreender que eu já não precisava dela, e que a sua borrachinha faria mais falta a outras bocas.
Foram tempos duros. Ainda hoje penso que gostaria de a reencontrar. Mesmo seca e ressequida, perdida num armário cá de casa, à minha espera, apenas para me dizer "Olá", ou simplesmente "Adeus".
Com estes sentimentos nostálgicos, recordo-me agora do meu antigo trabalho. Não pelo que fazia, porque era um trabalho de caca, mas sim pelos almoços com a malta, na cave daquele restaurantezinho lá perto.
A cozinheira fazia um arroz de feijão brutal, às segundas-feiras, que acompanhava sempre umas pataniscas brutais.
As pessoas continuam a surpreender-me. Quando menos esperamos, algo de bom acontece.
Quatro meses se passaram desde a última vez, e eu hoje bem notei um sorriso maroto na cara do empregado do restaurante onde almoçamos.
Após quatro meses a perguntar por ela e tendo sempre uma resposta amargamente negativa, hoje, o senhor levantou os pratos e disse apenas: "Então e quantas tortas de laranja são?"
Meu Deus, até me vieram as lágrimas aos olhos.
"Oh amigo, você não me diga... Fizeram mesmo a Torta de Laranja brutal aqui da casa????? :D:D:D:D:D:D:D"
É curioso, como pequenas coisas nos deixam tão contentes. O mundo pode ser um lugar escuro e merdoso, mas haja torta de laranja que a malta vai aguentando.
Uma vez mais, a cozinha já está semi-operacional. Pelo menos, o chão está colocado e a máquina de lavar roupa também. Posso finalmente lavar a pilha de roupa suja que tenho na casa de banho. Conto que dentro de uma semana esteja a processar a minha primeira refeição quente na cozinha (feita por mim, leia-se).
Hoje, como tinha dito, desloquei-me às Finanças. Descobri que estavam em obras e se tinham mudado temporariamente para um outro local da cidade... ok, lá fui e estacionei no subterrâneo mais próximo.
E para que serve esta história? Para nada em particular, não fosse a existência ironicamente cómica de dois cartazes em pleno parque.
Logo à entrada, afixado num pilar gigantesco cheio de riscos das portas traseiras de vários carros, um letreiro indicava: "Cuidado ao fazer a curva". Achei fascinante.
Mas mais engraçado era o aviso nas escadas... "Atenção, piso escorregadio quando está molhado".
Brutal! Brutalmente brutal! Se estivesse escorregadio com ele seco é que seria de admirar... mas ainda bem que o senso comum é sempre confirmado por estes pequenos e deliciosos momentos pagos pelos impostos de um gajo.

Feliz Natal!

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