10/01/2009

pop( )

Cansado, mas tentando dar a volta à insónia, debatia-me aqui violentamente com um filme.
"About a boy", com o Hugh Grant.
Não tenciono comentar porque, de certa forma, não me agrada particularmente estragar a festa a quem nunca viu o filme.
Contudo, o filme começa com uma brilhante afirmação. "Nenhum homem é uma ilha".
Cada vez mais derreto grande parte do meu tempo isolado, pensando no que faço aqui.
É um facto que deve ser uma questão comum a todos os seres-humanos. Eu iria mais longe e, eventualmente, até os animais terão alguma lógica de pensamento. Lógica essa que, possivelmente nós, humanos, ainda não entendemos.
Mas às vezes esqueço-me que isto não é um blog do mundo. É meu. Não interessa o que escrevo aqui, sou um cidadão anónimo do universo; muitos pensam conhecer-me, poucos me conhecem efectivamente e, para a humanindade em geral sou um grão de poeira no meio da deslocação temporal.
Não preciso de ser um porco idiota ou um génio do silêncio perdido no meu mp3. Basta ser efectivamente o velho e real autor, escondido nas penas de um pato imaginário.
Deverá existir um motivo concreto para me encontrar aqui, a estas horas, a divagar acerca da existência de um motivo. Só que não faz sentido.
Uma vez disseram-me que ninguém é insubstituível. Acredito mais ou menos nisso. Pelo menos no que respeita à minha pessoa sim, não sou insubstituível.
Metade da minha família foi cremada. Em relação à restante metade, mantenho um saudável afastamento social.
Há dias, alguém me perguntou se morava sozinho. A resposta gerou obviamente a clássica pergunta respeitante ao que seria feito da família. Yah... pois.
Tento ver isto com algum do humor negro que herdei da minha Mãe mas, por vezes (a esta hora, sobretudo) é bastante complicado conseguir entender.
Sou um tipo banal, com uma profissão banal. Não faço mais nem menos que o que outros como eu são capazes de fazer. Lá está, haverá mais como eu; podemos criar uma associação de anónimos, se estiverem para aí virados.
Acho alguma piada ao meu horóscopo diário. Lamento, não tenho culpa que me atirem com o Destak ou o Metro para dentro do carro todas as manhãs. Gosto de ler e o "Caminho das Estrelas" desperta alguma da minha curiosidade.
Dizem os Astros que o caranguejo é um animal que acima de tudo, tem um forte sentimento de casa e de família.
Lol. Não posso deixar de achar que isto é brutalmente hilariante. Passa das três da manhã, estou sozinho numa casa e sem ninguém com quem falar. Talvez eu não queira falar. Talvez já esteja de tal forma viciado em devorar tecla atrás de tecla no computador, que seja a escrita o único escape. A partir das 20, deixo de falar. O meu mundo passa a ser só letras, até às 8 horas do dia seguinte. Apercebo-me agora que não dou uso às cordas vocais durante pelo menos 12 horas do meu dia.
No meu mundo perfeito virtual, iria acordar a minha Mãe, sentar-me na cama com um chá quente e falar. Num meu mundo perfeito real, não o faria, porque nunca quis chatear os outros com as minhas coisas. No meu mundo real, dou conta do juízo a um monte de bytes online. Sério... se fosse um blog e tivesse um autor como eu, acho que largava um void() e mandava-me para o infinito.
É que estou brutalmente cansado, mas não tenho sono; e acabo aqui caído a escrever nos intervalos da programação em ASP e C#.
Acho apenas estúpido, porque tecnicamente deveria estar naquela idade em que nem sou carne nem peixe, ou seja, deveria procurar afastar-me da família para iniciar a minha vida sozinho e, por outro lado, ter o sentimento activo de família, casa, coisas dessas...
Ingrato é o facto de não ter de ir para a primeira hipótese porque, afinal, já não existe ninguém por perto para me poder afastar; por outro, considerando que a maior parte das famílias actuais se constitui perto dos 30, ainda me faltarão uns cinco anos para me preocupar em trocar o Corsa por um monovolume e arranjar a casa grande com jardim para as crias andarem a brincar.
O lado positivo disto tudo é o facto de, cruelmente, existir malta bem pior que eu. A ver... tenho casa, carro, trabalho e os melhores Amigos e Amigas do mundo. Tecnicamente nem deveria ter motivos para me queixar. Mas apetece-me.
Amanhã, uma vez mais, vou acordar e dizer "foda-se".
Amanhã, uma vez mais, vou cair na rotina habitual.
Amanhã, uma vez mais, vou cair naquele pensamento negro que toda a gente diz para eu não ter, mas que me gera toda a dúvida existencial da criação das ilhas (ilhas essas que aparecem altamente bem definidas no filme que referia no início).
Aqui a fada do lar acha que vai largar a escrita que não é escrita e tentar agarrar o João Pestana. Está a parecer-me que é daqueles dias em que só penso, digo e escrevo merda. E isso é terrível para o blog. O gajo fica deprimido e que eu saiba ainda não existem Análises Freudianas a Estruturas de Dados Online.
Amanhã há mais.

3 comentários:

Anónimo disse...

um post sério... e a sério! Nem parece teu. Sinceramente, acho que te faz falta deitares este tipo de coisas para fora, mas de viva voz, com alguém amigo, que te saiba ouvir e que tu queiras que te ouça. Acredita que ajuda! Pode não mudar nada na tua vida, mas acho que melhorará o teu dia.

Pato Marques disse...

Há aspectos em mim que por vezes nem eu entendo. Eu, a falar sério?? Sem a javardice diária que a malta escuta?? LOL. Devo estar completamente queimado.

Em relação ao alguém para deitar estas coisas para fora, um psicanalista ajudará? :D

Pato Marques disse...

pronto, ok. Desculpa.
Não era para gozar. Como disse, tenho os melhores Amigos e Amigas do mundo. Estás incluída no topo da lista.
Ignora a piada do psicanalista :D

(só para não dizeres que te gozo em público)