Sou um pato jovem, é um facto. O facto de ser informático não abona muito a meu favor. Sou daqueles tipos chatos, que contam piadas muito específicas de informática e com uma mente tão suja de anos e anos de internet que conseguem transformar a mais inocente das situações na joke mais nojenta e badalhoca... Entendo que dentro de alguns anos (poucos, eventualmente) estarei farto de tudo isto. A informática deixará de ser a emoção que é hoje e, passarei os dias lixado porque estou a fazer algo que já me faz arrancar os cabelos. Contudo, esse dia parece ainda vir longe. Ainda me dá um gozo tremendo andar a ver websites noite dentro, com cenas perfeitamente geeks (já sei... 'get a life, get a woman...'). Ainda acho um piadão a ler artigos que me ensinam a fabricar biodiesel na banheira ou a carregar um iPod com um limão e uma garrafa de Gatorade. Apesar de saber que nem sempre o meu trabalho é reconhecido, apesar de ouvir piadas dias a fio relativamente ao facto de ser o tipo que está enterrado atrás de três computadores sem falar, apesar de gozarem com o facto de ser o esquimó enfiado no gelo da sala de servidores, apesar de muito boa gente achar que ser informático é sinónimo de coçar os jardins suspensos durante 8 horas por dia, apesar de muitas vezes se esquecerem que é o informático que entra em stress para garantir que a falha do sistema será recuperada o mais rapidamente possivel, apesar de toda a gente achar que é um exagero estar dias a resolver um problema (que para eles é algo óbvio, mas que implica que o informático mova montanhas... ou até mesmo a Lua), apesar de ser o gajo de quem se lembram apenas quando há merda, o facto é que não foi ontem, ainda não foi hoje, e decerto que não será amanhã que ficarei farto disto. Porque me continua a dar um gozo brutal encarar o mais merdoso e complexo dos problemas como sendo mais um desafio e porque ainda me faz muito feliz ouvir aquele 'obrigado' depois de ter salvo mais um utilizador de se ter afogado na própria caca... E porque até a mais simples das questões como criar um atalho no ambiente de trabalho pode fazer o dia terminar com uma quebra total dos servidores mesmo à hora da saída, todos os pedidos de apoio são encarados da mesma forma: mais um desafio para o dia de trabalho. É a palavra chave, é o que dá pica e aquece a máquina craniana: o desafio. Faz toda a diferença - e talvez por isso ainda não esteja farto - atender o telefone, ficar completamente lixado por me estarem a chatear com uma cena básica, mas resolver e ver o sorriso e/ou ouvir o 'obrigado', o 'thanks', o 'gracias' ou o 'fixe'. E ainda fico passado quando não consigo resolver imediatamente as coisas. Quando tudo parece negro, basta recordar a premissa fundamental: nada é impossível; existe o temporalmente improvável, o tecnicamente não exequível num determinado espaço temporal mas não o impossível. E é isto que continua a puxar pelo bichinho diariamente. Até se suportam as calinadas dos utilizadores que, muitas das vezes, nem sequer sabem ao certo qual é o seu problema... só sabem que existe, lol. É muito provável que, tal como outros informáticos, chegue o dia em que me canse, deixe de ter paciência e só me apeteça pegar num servidor e atirá-lo à cabeça de alguém. Mas lá está... parece-me ser temporalmente improvável... Um dia! Mas não amanhã. Por isso, entendo que alguns se fartem. Entendo que muitas das vezes somos desprezados e deitados no lixo como a geleia fora do prazo (outra geek joke...) e que, como tal, só nos dê vontade de largar tudo e abrir uma mercearia ou coisa parecida. Mas isso implicaria desistir, o que se encontra fora de questão. Por isso entendo. Não compreendo, mas entendo...
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