e todos os dias, dia após dia, todo o santo dia, assiste-se a toda a rotina diária que rói as entranhas de um pato.
(diarreia mental hour)
Tudo consiste num simples facto. Esse facto, de tão simples trato, gera uma única questão.
"Para quê?"
O nascimento e, com ele, toda a parvoeira que sentimos em ver a malta a fazer caretas e sons guturais como se fôssemos atrasados mentais.
Passamos à infância e surgem os primeiros problemas existênciais. Só por si, a passagem da infância não é mais que uma fase deprimente das nossas vidas em que temos tudo o que é família a pegar-nos ao colo e a aturarem-nos os nossos disparates, culminando num grande pontapé no rabo quando nos atiram para a escola.
Aí, começamos o nosso desenvolvimento social.
Na realidade, é imediatamente na escolinha que começamos a definir os primeiros passos da nossa personalidade: a malta que leva no focinho e é gozada a torto e a direito por tudo quanto é coisa e os absolutos grunhos que um dia não farão mais que limpar as nossas fezes numa qualquer casa de banho pública. A malta que leva na tromba na escolinha é demasiado perigosa. Isto porque a partir desse momento, todo o seu crescimento académico passa a ser feito segundo um único objectivo: o objectivo da vingança. E quanto mais levam nos cornos piores ficam. Crescem na escola para serem os melhores, nunca estão satisfeitos com o seu desempenho, são uns infelizes de merda mas, destacam-se por serem os alucinados que ganham os prémios, que encaram tudo como se fosse um desafio. Um problema de matemática? Venha ele que o destino do mundo depende disso! A base é simples. Ser o melhor para um dia arranjar forma de humilhar o gajo que nos ia ao trombil. A decepção é enorme quando chegamos a determinado período das nossas vidas: por um lado, o gajo que nos batia era tão grunho que se conseguiu humilhar e enterrar sozinho; por outro, percebemos que nunca valerá a pena... e acabamos por esquecê-lo. Assim, urge perguntar... para quê a obsessão de querer sempre ser mais? O motivo foi às urtigas.
Mas os geeks são mesmo perigosos. Conheço um (quem será...) que depois de ser assaltado e se ter comportado como uma menina, escondendo-se num café, prometeu a si mesmo que nunca mais lhe iria acontecer a mesma merda: Conclusão: começou a praticar judo e ainda conseguiu algumas graduações; o tarado até se chegou a federar...
Pelo meio de tudo isto entra a fase da adolescência.
Aqui, o inimigo passa a ser outro, e as pancas também.
Ainda fruto das cagadas do passado, somos completamente promovidos a geeks. O ar semi-lunático, a barba que começa a crescer e o acne fazem um grande sucesso entre as colegas que querem é gajos mais velhos (e maus, como dizia uma que conheci no secundário) e que têm dinheiro. Fase dois do problema: o dinheiro.
No fundo, a maior parte delas quer é um cromo que possa exibir. E isso requer um bom partido. E obviamente que o bom partido nunca é o gajo que quando acaba as aulas ainda vai dar explicações de matemática a putos do preparatório apenas para ganhar mais uns cobres, mas sim aquele cujo dinheiro é fêmea... reproduz-se na carteira.
Os geeks mantém-se sozinhos e desprezados. Curiosamente, continuam a ser os gajos que ganham os prémios para a escola sem sequer receber um tostão em troca. Não passam de estagiários...
Com os problemas ao nível do sexo oposto, surge um novo objectivo. Se era dinheiro que ela queria então vou lixá-la. Vou continuar a marrar que nem um carneiro, para ganhar muito dinheiro e um dia poder dar-lhe com os pés...
Detalhes.
1. Ao entrarmos na faculdade percebemos que não ganhamos dinheiro a marrar... a ideia é ter pais influentes ou arranjar cunha num partido político;
2. Já na faculdade, enquanto caloiros, facilmente esquecemos a 'miúda' do secundário... era uma estúpida, basicamente. E as meninas de química, biologia e outras engenharias do género fazem milagres.
3. Quando um dia encontramos a jovem do secundário que originou o nosso marranço e entrada na faculdade (obrigado, já agora) ela encontra-se muito diferente. A tal ponto que deixou de ser a menina bonita da escolinha secundária para ser apenas mais uma dona-de-casa desesperada. Em suma, uma triste.
Para quê, pergunta-se então novamente.
Se em vez de ter faltado às aulas de educação física para estudar matemática tivesse feito exactamente o contrário, poderia agora estar num clube qualquer de futebol a ganhar por mês aquilo que facturo em
dois anos... mas, não... os calhaus gostam mesmo destas merdas e queimam neurónios para serem mal-pagos.
Logo que entramos na faculdade passamos ao nível 3 da problemática: carreira e dinheiro.
Basicamente, o objectivo é ter uma carreira. E isso gera dinheiro.
Então passamos à condição de estagiário miserável (aquele que está abaixo de um cão) e trabalhamos a dobrar. Na faculdade, estão-se a cagar para o facto de trabalharmos; no trabalho, estão-se a cagar para o facto de estudarmos.
No fundo, é uma simbiose reversa. O empregador não quer que estudemos porque terá de pagar mais... e a faculdade está-se nas tintas para tudo o resto. Nem mais. Simbiose Reversa.
O nosso ecossistema começa então a transformar-se.
Deixamos de ser estagiários... começamos a ser respeitados... compramos carro, prepara-se a compra de casa, pensa-se em filhos e em casamento. E, muito concretamente, pelos mais variados motivos, passamos os sonhos a outros e agregamos a carneirada. Somos mais um no meio de muitos.
Não somos especiais, não somos diferentes, somos um carneiro no meio do pasto. Somos muitos. Lutamos para o mesmo, que é conseguir terminar mais um dia e começar um outro. Sempre na mesma rotina. 24 horas por dia, sete dias por semana. Toooooooooodos os dias do ano. Sozinhos.
O dia começa e ainda antes de conseguirmos pensar por que motivo não ficámos debaixo do rodado traseiro (o detalhe... não é um rodado qualquer, tem de ser o rodado traseiro) do autocarro, já estamos em frente ao computador para mais uma jornada de trabalho. Com um pequeno-almoço tomado à pressa na corrida para o trabalho, pensamos na vida, pensamos na morte, pensamos em todas as pessoas que tivemos a felicidade de conhecer e todas aquelas que viremos ainda um dia a conhecer; isto tudo enquanto tentamos configurar servidores e firewalls e prestar suporte informático à rotina de uma empresa. Ligamos o Messenger bem cedo, quando ainda não está ninguém online e somos os últimos a sair, quando já todos foram para a cama ou para a borga.
Somos capazes de bater num teclado mais vezes num só dia que o coração humano numa semana. Pode ser exagero, é verdade, mas anda lá perto.
E o dia termina, e voltamos ao Inferno, sempre agradável... curiosamente é frio; e o demónio não veste Prada mas sim um roupão e uma camisa de noite. E lá anda ele, vigilante e ocioso, encostado no sofá, esperando mais uma ocasião para nos dar uma facada nos pulmões.
Deixa tudo de fazer sentido.
Para quê?
Tudo acabará mais cedo ou mais tarde com o pessoal a chorar por nós. É um facto. Depois de mortos somos uns santos...
Trabalhar e estudar, tudo por um bem maior que é a evolução da espécie humana (ou avícola, como quiserem).
Mais um dia que começa e termina sempre da mesma forma. Sozinho ao raiar do Sol, sozinho ao nascer da Lua. Começar com um computador e um telefone na mesa e terminar com um telemóvel e um portátil na cama.
Hoje estou particularmente... como poderei dizer... deprimente.
Como aliás, estou todos os dias.
Afinal, é mais um elemento que compõe a rotina.
Cumprimentos patinos.
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