04/01/2008

caquinhas

Um gajo pensa.
Ou não.
De qualquer forma, vamos supor que um tipo está numa daquelas lojas (mais valia dizer armazéns) de componentes informáticos sem qualquer apoio personalizado. Aliás, nesses sítios, o díficil é arranjar um gajo que saiba o que quer vender...
Não refiro nomes, seria foleiro. Mas vamos supor que é um daqueles pseudo-supermercados que existem enfiados no meio dos centros comerciais e onde a malta da periferia se junta e discute como se soubesse do que está a falar.
Anyway... creio que já deve ter acontecido a todos, encontrarem-se à frente de uma prateleira com várias caixas, todas elas iguais, todas elas com o mesmo produto.
Não sei porquê, mas a verdade é que tenho tendência a olhar para a mercadoria como se fosse comida ou uma merda do género.
Instinto básico. Os gajos quando fazem a reposição do produto, enfiam o mais fresco para trás e metem o lote antigo à frente. Então é simples, faz-se uma rápida permuta e vai-se buscar a caixa que se encontra mais atrás.
Retira-se a caixa do fundo e empurram-se as da frente para trás.
Vamos agora supor que o pessoal é todo apanhado dos cornos (ou seria passado de todo?) e fazem todos a mesma coisa. Ao fim de três clientes, tenho a porra do lote antigo novamente atrás, o novo desapareceu e, se fizer a mesma brincadeira, vou levar a placa gráfica que se encontra menos 'fresca'.
Lá está. Rói-se o rabo do gato, o que a malta quer sei eu e levo a caixa mais antiga.
Curiosamente, sinto-me realizado. Afinal, e para todos os efeitos, peguei na caixa que se encontrava mais no fundo, embora não seja a mais recente. Embora por instantes fique convencido do contrário.
Assim se criam pancadas valentes...
O facto é que toda esta conversa não faz sentido nenhum porque, vistas bem as coisas, a motherboard não é um pacote de leite e, na realidade, as reposições de stock na informática não são assim. Na verdade, da próxima vez que o stock for reposto, o mais certo é que seja um chip que é uma evolução do anterior, fazendo disparar o preço para mais 10%...
Como nem sequer seria dia se não dissesse isto, aí vai. É fofo!
Contudo, e para quem julgava que a história já tinha terminado, há um conceito ainda mais profundo.
Temos dez caixas todas iguais, todas pertencentes ao mesmo lote. Temos uma coisa linda denominada produção em série que fode as teorias todas. E, com a maravilhosa produção em série, temos as margens de erro. E, supondo um erro de 10%, há uma dada probabilidade de que, em dez gajos que apanhem as caixas, um não consiga montar o sistema porque o componente tem defeito. Ainda para mais, abordando a já famosa Lei de Murphy, há uma probabilidade de 90% que seja a caixa em que agarrei que tenha o problema.
O mais curioso no meio de toda esta ciência da caca, é que independentemente da caixa em que pegar, a probabilidade de 90% de cagada certa está assegurada.
A cagada (ou caquinha, como é vulgarmente denominada nos serviços de informática) tem tendência também a derivar (ou primitivar, quem sabe) numa chuva de merda brutal.
A pequena caquinha, que se pode resumir por exemplo, na alteração da permissão de acesso de um utilizador a uma pasta, pode provocar a quebra de um servidor que foi atolando pedidos para aquele utilizador e fodeu a memória toda...
É o chamado "Efeito Borboleta" ou, se preferirem, o "Efeito Pescoço da IT no Cepo".
Os serviços de informática são também reconhecidos pela sua capacidade de coordenação e descontextualização de tudo o que se passa.
A informática não é mais que Informação processada de forma Automática. Engraçado é que para o processamento ser efectuado de forma automática, há sempre um ou dois gajos na informática (ou patos, quem sabe) que vão dando à manivela para as merdas funcionarem.
Fixe, são os sistemas de desinformação.
Funciona da seguinte forma (e esta é apenas uma variante):

10.00: o macaco da IT detectou um problema;
10.01: o macaco da IT começa a resolver o problema;
10.30: o utilizador final detectou o mesmo problema;
10.31: o utilizador final informa a IT que há um problema; o macaco da IT diz que não sabe de nada mas vai ver o que se passa;
10.32: o macaco da IT envia um email a todos os utilizadores, explicando que há um problema;
10.35: o problema foi resolvido pela IT;
10.36: o utilizador final volta a reportar à IT que havia um problema há 5 minutos atrás;
10.37: o macaco da IT envia novamente um email a todos os utilizadores explicando que fez algo para resolver um problema que afinal não existia;
10.38: os utilizadores começam a refilar porque sim, existia um problema (apesar de já estar resolvido);
10.39: resposta base da IT: "após análise técnica, não foi detectado nenhum problema... é possível que tenham ocorrido falhas temporárias devidas a situações externas aos nossos serviços".

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