26/03/2008

coisas

A estas horas, sentado na cama e pensando na vida, começam a raiar os enigmas da mente.
Vejo o que já fiz até hoje e traço estratégias para o que ainda tenho a fazer.
Suponho que a ideia de ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro não é suficiente para este Pato.
Eventualmente, ter dois filhos e plantar quatro árvores talvez já fosse mais ao encontro das minhas expectativas mas também pode ser a evacuação mental a fazer das suas.
Por vezes penso como seria se tivesse nascido noutro ninho.
Não faço ideia se teria tido menos, mais ou as mesmas oportunidades. Preocupa-me bastante mais o facto de poder ou não conhecer as mesmas pessoas.
Acordo de manhã e a primeira coisa que me vem à cabeça é pensar que está a chegar mais um dia de merda.
Já há muito que ultrapassei a fase do ter pena de mim. Agora encaro a vida numa perspectiva mais saudável e objectiva.
Tudo o que acontece, acontece por um motivo, embora não saibamos ainda por que motivo acontece. É filosófico, mas resulta. Se não pensarmos directamente na chuva de merda que cai sobre nós, atribuindo os acontecimentos a uma qualquer actividade extra-sensorial, as coisas correm bastante melhor. De qualquer forma, o conceito puro de merda, existe.
Compreendo finalmente o objectivo de tudo isto.
Pelo menos, pela metade.
Procuro entender que o que aconteceu, teve um motivo para acontecer mas, por outro lado, recuso-me a deixar nas mãos do destino o que poderá vir a acontecer. Seria demasiado estúpido.
No fundo, encarar as coisas neste ponto de vista: desfazer-me para atingir o que quero; se as coisas derem para o torto, são as movimentações cósmicas a fazer das suas.
Parece soar bem.
De facto, parece soar bem melhor que a cena do Segredo. A teoria de que se pensarmos muito numa coisa ela acaba por acontecer parece-me um bocado abstracta. Ou então é da fonte e comigo não resulta. Ou então pode até resultar e eu, distraído como sou, não perceber.
Contudo, a lógica andará por aí.
Não posso deixar de pensar em quem magoei e no que não fiz. Em quem desiludi e nas asneiras que processei.
Resíduos cósmicos ou não, já não vale a pena continuar. Agora resta proceder a correcções, eliminar bugs e apoiar em Produção. Com sorte, as coisas vão ao lugar.
Chamemos-lhe sorte ou, se preferirem, capacidade de gestão e manutenção das asneiras executadas.
Dizem que na informática as equipas devem ser multifacetadas. Quando um faz merda, a equipa tem a capacidade de corrigir; gosto de pensar que sou uma equipa por inteiro. Eu faço a merda, eu tenho de corrigi-la. Possivelmente estará relacionado com a minha falha na personalidade de não confiar em ninguém para fazer o que tenho a fazer. Penso que a falha aos poucos se começa a corrigir, fruto de algumas terapias, eventualmente. Mas ainda tenho um longo caminho a percorrer.
Esta hora é sem dúvida a melhor hora do dia.
O camião do lixo na rua, o som dos batentes dos elevadores dos caixotes e o plástico a bater, dão-me uma sensação de calma. Ou então é o cheiro do camião, que fede e me faz sonhar com patinhas cor-de-rosa às bolinhas azuis. Quando faz a ronda na minha rua já vem cheio portanto, podem ser os resíduos orgânicos refinados a transmitir esta sensação de paz.
Ocorre-me que poderá ser também porque a esta hora a 'Coisa' está a dormir, o que melhora o ambiente.
Não consigo arranjar motivos para não fazer a barba durante semanas, ou para não me pentear nalguns dias... bom, felizmente sou um pato que toma banho diariamente e que sabe lavar roupa, senão estava bem fodido.
Já agora... hoje é dia 26. Pensar que há apenas três meses era Natal...

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