Suponho que devam já todos ter passado pelo mesmo.
Faço, não faço, digo, não digo, enterro-me, talvez não, quando, como, porquê, com quem, espero pelo momento oportuno, sou impulsivo, atiro já com a cadeira e o portátil pela janela fora, aguardo um pouco mais e mantenho a calma?
Os princípios gerais que regem a vida de um informático não funcionam efectivamente em todas as situações. Aliás, não seria mesmo suposto funcionarem pois retirariam a complexidade às coisas simples e, a ideia é mesmo que quanto mais complicada for uma situação, mais interessante será dedicarmos o nosso potencial à sua resolução de forma a concluir-se com sucesso a sua manutenção.
Confuso, certo? Claro que é. Seria também demasiado esperar-se que alguém como o Pato Marques objectivasse sucintamente acerca ou sucintasse objectivamente.
O grande problema em toda a questão é que o mais provável é que demos completamente em doidos a tentar chegar a um dado ponto.
Na faculdade tinha um professor altamente irritante. O gajo dizia-nos sempre que nunca ia explicar tudo porque "nunca se dava o ouro ao bandido".
Devo dizer que era uma atitude que me afogava profundamente as entranhas, e só com algum auto-controlo (sim, ainda tenho algum) nunca lhe atirei com o portátil à cabeça.
Mas compreendo também (agora, que sou crescido...) que o que ele dizia, embora de forma arrogantemente enervante, era um estímulo à nossa capacidade intelectual.
O que sempre me passou pela cabeça era: "cabrãozinho... só para te foder, vou marrar na merda da bibliografia até saber o que seria suposto teres ensinado". E isso foi óptimo. Por um lado ajudou-me a nunca esperar que as coisas me caíssem nos braços, lutando para obter o que quero, mesmo que para isso me tivesse de meter à frente de um couraçado - não era algo que não tivesse ainda aprendido, mas ajudou a refoçar o conceito base; por outro lado, ensinou-me que por muito negras que as coisas aparentem estar, há sempre algo que nos mostra como pintá-las de outra cor.
Isto sem contar com a motivação inerente.
No fundo, quando gostamos muito de alguém, os métodos que usamos para chegar a determinado ponto, nem sempre são os mais adequados (ou nunca são); contudo, quando se ganha uma espécie de ódio a alguém, é muito mais fácil encontrar soluções.
O princípio parece ser simples. Quando se gosta de alguém, colocamos na equação de resolução, dados que vão gerar dúvida sobre a demonstração do teorema; nunca sabemos ao certo o que fazer, o que dizer, e os valores encontrados acabam sempre por nos lixar de uma forma ou de outra. As probabilidades nunca estão a nosso favor, as Leis de Murphy encontram-se sempre por lá a atrapalhar e os mecanismos clássicos newtonianos de acção-reacção demonstram sempre que com mais facilidade nos cai o céu em cima da cabeça do que uma solução vinda de uma macieira. No fundo, considera-se como sendo o primeiro vector da sabedoria e, ao mesmo tempo, o quadrante geral dos problemas.
Já a perspectiva do ódio simplifica muito as coisas. Independentemente daquilo que queremos fazer, isso implica que queremos chegar a algum lado sem nos preocuparmos com o que nos rodeia. Não importa por cima de quantas pessoas passamos só para lixar alguém. É algo simples. Basta pensar "cabrão, não vou deixar que me fodas" e as soluções brotam como mimosas na Primavera. Esta segunda apresentação vectorial é tão simples que chega a ser escalar.
No meio de toda a explicação filosófica com que presenteei os meus leitores, urge fazer referência a dois dados importantes.
a. Por que raio a maior parte dos meus problemas assenta sempre no primeiro vector de toda a problemática apresentada?
b. Por que motivo tenho tanta dificuldade em odiar? É que era capaz de ajudar... com os restantes problemas.
Conclusão: é menos complexo abrir a janela e atirar esta merda toda do terceiro andar.
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