20/02/2008

flash

Não sei se os meus fiéis leitores já repararam mas, há algo de muito interessante na condução automóvel quando estamos parados em semáforos, engarrafamentos, qualquer coisa onde a velocidade instantânea do veículo seja nula.
De facto, o exercício poderá ser feito também com o carro em movimento mas, não será de todo aconselhável, visto exigir alguma concentração... o que se poderá tornar chato para a malta que cruza o nosso caminho.
Bom, claro que se estivermos parados, deixa de ser considerado condução... afinal, é apenas mais um tolo sentado num assento fofo e agarrado a um volante. Mas vamos ignorar esse detalhe idiota e tentar explicar a situação.
Os piscas dos automóveis são algo que me fascina desde tenra idade.
Quando um tipo liga o pisca e ouve aquele som magnífico do tic-tic, tic-tic, muitas das vezes nem reparará que o som acompanha efectivamente o piscar da luz. Qualquer coisa como tic-tic, flash-flash.
Obviamente, é complicado vermos os piscas a piscar quando estamos dentro do carro. Em parte, deve-se ao facto de estarmos dentro do carro. Mas se estivéssemos fora do carro, teríamos outro tipo de problemas, assentando mais concretamente no facto de não o podermos controlar. Como há coisas muito mais complexas e trabalhosas que também se resolvem, sugeriria que analisassem o piscar do pisca baseados no reflexo do veículo da frente ou, caso não seja possível, no reflexo de uma montra de uma loja... enfim, sejam criativos. Até porque na cidade não faltam locais onde podemos perceber o piscar do pisca.
A questão é o sincronismo do pisca com o pisca do carro da frente.
Caso nunca tenham dado conta, muito dificilmente vão conseguir ter dois carros juntos com os piscas a piscar no mesmo período de tempo. Se o tic for o som do pisca do nosso carro e o tac, o som do pisca do carro ao lado, nunca irão conseguir que o tic e o tac, tiquem ao mesmo tempo. Há sempre ali uma margem na forma de um deslocamento temporal que nos deixa doidos. A mim pelo menos, deixa-me. Ok, é certo que o meu cérebro pequenino é facilmente enlouquecível mas, também não há assim tantas coisas à face da Terra que me consigam deixar doido. Bom, na realidade, para além das enfermeiras, da 'coisa' e de uma erva aromática, creio que só mesmo o sincronismo dos piscas é que me consegue deixar assim. Certo, foi um golpe baixo... mas honesto.
De facto, a merda do tic e do tac nunca estão sincronizados.
É algo que me preocupa desde pequeno.
Se os construtores não chegam a acordo relativamente a um standard tão simples para "ticagem" dos piscas, como podemos nós acreditar que a indústria tem mesmo standards?? Quem nos garante que o motor a quatro tempos não tem tempos a mais ou a menos dependendo do fabricante? E o Dente Azul? Será que é mesmo um protocolo universal? Meu Deus!!!! Ontem de manhã estava parado num semáforo e comecei a ficar hipnotizado com o pisca do gajo da frente! De súbito entendi que a falta de sincronismo dos piscas estava a fazer abalar todos os alicerces do meu universo paralelo embutido neste cérebro pequenino que é o meu.
Se não posso acreditar no sincronismo dos piscas, vou acreditar em quê????
E como se já não bastasse o flash do pisca do gajo da direita a piscar mais rapidamente que o meu... de repente... pauu!!! mete-se um gajo atrás de mim com o pisca a piscar mais lentamente. E o gajo da frente? E o gajo da frente???? Olho para a direita, flash-flash, flash-flash; atrás de mim... flaaaaash-flaaaaash; e o tipo da frente tem daqueles piscas assíncronos com um flash longo e dois curtos, um longo e dois curtos. Merda!
Depois ouço o som do meu e o tic deixa de ter aquele som puro e cristalino... passa a ser mais um no meio de tantos, mas diferente de todos.
De súbito, a grande questão. Quem é que está fora do sincronismo: eu, ou qualquer um dos outros?
Tipo, tem de haver alguém que esteja sincronizado. Com o quê, não faço puto de ideia, mas alguém está sincronizado com algo, alguém, alguma coisa!
E se não for eu? E se for o gajo da frente?
Posso ir à marca e reclamar que não tenho o pisca sincronizado com o ecossistema? Na realidade trata-se de um ecossistema!
Não posso deixar de pensar que este problema ressurgiu nos meus cornos enquanto estava parado na Av. do Brasil, frente a um conhecido hospital psiquiátrico.
Mas, de qualquer forma, a situação abalou os recantos mais profundos do meu ser.
Não sei o que fazer.
Merda!

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