13/02/2008

álgebra linear

Já referi isto muitas vezes neste blog.
Um informático na minha idade constata que passou exactamente um terço da sua existência a estudar verdades inegáveis, matérias inquestionáveis e certezas incondicionais.
Na verdade, um tipo na minha idade e a esta hora da noite, deveria era estar nos copos e a preparar uma noite de quinta para quarta. Confesso que não é exactamente o programa que mais me fascina. Mas por esse mesmo motivo, não me posso também queixar muito por estar sozinho.
É um facto que não tenho 100 anos, não sou um tipo acabado nem tenho a linda cara do Zé Cabra.
Possivelmente vejo as coisas de forma ligeiramente diferente da malta da minha idade - certo ou errado, torna-me mais velho; acabado também não estarei... embora tenha andado a passar essa imagem no Especial S. Valentim com o meu amigo Afonso, a verdade é que já por algumas vezes me dei ao luxo de ignorar insinuações de umas e outras, chegando mesmo a ser altamente antipático e tendo a noção perfeita de que poderia estar a magoar alguém, da mesma forma que tantas vezes também já me magoaram a mim. Não é uma questão de vingança, é apenas uma forma fácil de resolver as situações. Creio que sempre preferi atirar com um irrevogável 'não' do que alimentar esperanças. E no fundo talvez seja um dos muitos aspectos a melhorar na minha pessoa... ter um pouco mais de tacto e lembrar-me um bocado dos sentimentos das outras pessoas. Ninguém deve gostar de ouvir um 'não' e os meus são normalmente muito duros. Se o faço... é porque não estou mesmo minimamente interessado. Penso que há um limite e, quando começam a entrar em determinada realidade, tenho o hábito de não colocar travões - atiro simplesmente um calhau gigantesco para o meio do caminho, eliminando assim todas e quaisquer hipóteses que possam inventar do outro lado; não morro de amores por mim, nunca gostei de me andar a ver ao espelho (não creio que seja nada assim tão especial que valha a pena perder tempo nisso) mas, tenho a noção perfeita (presunção ou realismo, como lhe queiram chamar) que há pessoal efectivamente muito pior que eu.
Talvez esta minha perspectiva se enquadre um pouco na mítica questão de me classificar como pato. Sou um pouco irritante com o meu grasnanço, dou umas voltinhas no lago e embora a malta me ache muita piada, serei efectivamente bastante mais apetecível no forno com umas rodelinhas de laranja. Só para que conste, não estou a tentar nenhum trocadilho de índole sexual.
Assim, nunca fui um tipo apressado para ir buscar o milho (agora sim, é um trocadilho de cariz sexual).
Não ajo irreflectidamente nem tenho propensão para me atirar ao primeiro peito de franga que me aparece à frente.
Contudo, quando o faço, há motivos que a própria razão desconhece como aliás, seria de esperar neste tipo de situações.
A paciência é efectivamente uma virtude. Afinal, se sempre fui pato capaz de jogar SimCity pela madrugada fora, não me faz confusão ir tentando cimentar outros caminhos, independentemente do tempo que possa demorar.
Também por este motivo, não tenho nem nunca tive o hábito de andar a disparar em várias direcções.
Gosto de manter a minha sanidade mental e, por muito que isso possa custar a compreender aos meus amigos patos, as relações não são sistemas de equações lineares em que quando uma delas fica pendurada, mudamos para a debaixo, resolvemos mais uma variável e voltamos novamente à equação linear inicial... pelo menos no meu ponto de vista. Embora me custe dizer isto por causa do trauma que obtive com Investigação Operacional, gosto mais de ver as relações como aqueles sistemas meio-marados em que resolvíamos tooooooda uma equação antes de passarmos à seguinte.
No fundo, baseia-se nisto: a partir do momento em que existe uma porta aberta, por ínfima que seja a abertura, há que esgotar todas as hipóteses até se chegar ao limite. Esgotámos todas as hipóteses... pensamos e arranjamos mais umas quantas soluções. Somos engenheiros caramba! O nosso trabalho é resolver aquilo que outros acham inexequível!
Claro que havia sempre aquelas equações sem solução. Tipo... mas não acredito que as coisas sejam assim tão científicas. Há equações com solução e... aquelas que dão luta.
E claro, como não poderia deixar de ser, por vezes sem motivo aparente, por muito estranho que possa parecer, ridículo ou impensável, as equações tiram-nos o sono. Ficamos horas a fio a pensar em toda a sua intrigante construção, na beleza das suas variáveis e na possibilidade da existência da sua solução.
A equação ainda não saiu do papel? E depois? Acaba por ter piada o pré-conhecimento da equação antes da implementação final na forma de uma estrutura neural de dados. E vejamos... se calhar até é esta a forma correcta de se fazer as coisas e ainda por aí imensa malta enganada.
E se, muito dificilmente, o sono bate à porta, ainda temos tempo no limiar da madrugada de acordar em sobressalto cabeceando violentamente o armário que pende acima da cabeça.
Quando se gosta mesmo de equações, ou melhor, quando existe mesmo uma solução pendente de uma equação, que nos tira o sono e preocupa, acaba-se a dissertar matematicamente noite dentro, debitando caracteres num teclado. E pensamos... por que não?
A problemática encontra-se aqui ligeiramente deslocada. A situação é que estamos apenas a analisar um dos lados... o problema é bem maior quando se verifica o contexto do lado da equação.
Afinal, para quê facilitar a solução? Valerá a pena? Poderá tratar-se de uma verificação analítica tentando perceber o que estamos dispostos a fazer para a encontrar. O que somos capazes de fazer no limite da resistência, o que pretendemos ao certo, até onde seremos capazes de ir para resolver finalmente a equação.
E compreende-se também o lado 'equacionário' da questão... poderá existir uma preocupação que assenta na questão do que irá o tipo fazer depois de encontrar a tão complexa solução.
É uma questão simples, de resposta ainda mais simples. De facto, há por aí uns quantos tipos que gostam de desafios. Um desafio só é um desafio enquanto não existe solução. O que garante que não se mudará de desafio depois de descoberta a solução? Algo simples... ninguém dá o máximo de si para largar tudo e partir para outro desafio. Seria algo imbecil.
As equações não são como um brinquedo na mão de um matemático que, quando se farta, atira com elas para a margem de uma folha... não deve ser algo em que as equações devam ter dúvidas.
Claro que há matemáticos para todos os gostos, assim como há uma vasta gama de equações para solucionar.
Este em particular, é dos que se mata a resolver a equação. Mas depois não a atira para o canto da folha. Pelo contrário - fica tão contente que desata a escrevê-la vezes sem conta em todas as folhas que encontra...
Mas há efectivamente equações muito complicadas.
Não é por sermos simpáticos, loucos ou patos que chegamos à solução.
É sempre necessário ter uma grande dose de criatividade para marcar a diferença (e ter um blog não parece abonar muito a favor).

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