11/08/2008

morangos, rebeldes, afins.

Giro no meio disto tudo é equacionar-se sempre que as criancinhas andam todas naquele mundo perfeito cor-de-rosa, onde elefantes azuis habitam a imensidão dos céus.
Já repararam que em todas as novelas com putos, a acção se desenrola sempre numa escola altamente equipada, de nível médio-alto ou superior e onde há campos de férias brutais espalhados pelos quatro cantos do país?
De facto, não queria ser desagradável, mas se calhar já avisávamos os putos que vão para uma escola pública a cair de podre e onde vão levar na tromba ou então para uma escola privada a cair de podre e onde vão levar na tromba.
É que as cenas amorangadas e rebeldes não existem propriamente por estas bandas.
Era capaz de ser mais interessante relatar a vida de um grupo de alunos de classe média, com amigos que se metiam na droga, outros que bebiam até cair para o lado (antes da aula de matemática), com raparigas perfeitamente normais que, na sua normalidade, viviam encantadas pelos gajos que não existiam e onde ser um aluno médio era sinónimo de levar nos cornos quando fossem ao pátio.
Uma escola que apesar de privada, não tinha ginásio, e onde a malta tinha de ir ao frio e à chuva, nos dias ainda escuros do Inverno, avenida abaixo e enfrentando em pequenos grupos as prostitutas e traficantes que por ali andavam até se chegar ao ginásio alugado.
Eventualmente, era capaz de ser bastante mais divertido relatar a vida tal como ela é, sem exageros materiais - afinal, os dias que correm não estão para isso - e onde os pais ou mães se matavam a trabalhar para os filhos poderem chegar à faculdade, arranjar emprego e começar a ajudar enquanto estudavam para ter um curso superior.
Digo eu, que até era capaz de ter piada, contar aquelas histórias em que havia sempre um colega ou outro que se fingia de doente no dia da visita de estudo porque não tinha o dinheiro para o transporte... e onde nós, silenciosamente, topávamos tudo e fazíamos aquele silêncio solidário.
Eventualmente, apesar de apregoarmos 'a vida tal como ela é' e fecharmos gajos em directo numa casa, não é efectivamente a vida real que dá audiências, e assim fazemos o nosso teatrinho de marionetas, cor-de-rosa, azul-bebé e sem problemas de maior.
A programação da TV começa a dar-me vómitos.

2 comentários:

RN disse...

Além do mais, no liceu que frequentei nem as pitas eram todas boas nem andavam sempre de biquini.

Vivam os novos tempos!

Pato Marques disse...

Sim... e o mesmo se pode dizer da faculdade.
Antes ovelhas...