11/06/2008

a Fiona

O Shrek é um filme interessante.
Temos um ogre que acredita que os seres vivos são para ser tratados como cebolas porque, efectivamente, têm camadas que devem ser descascadas aos poucos; temos um burro chamado Burro, companheiro de aventuras do ogre e chato que nem cornos; temos uma princesa de seu nome Fiona que, tal como todas as princesas que se prezam, está presa num local inacessível e guardada por um dragão; ah, esquecia-me... temos ainda pelo meio um peixe chamado Dori que assume diversas vezes o papel do Burro, tirando o facto de ser chato como cornos. (É possível que ande para aqui a misturar histórias...)
A ideia a reter é a de que as princesas às vezes não percebem que não há princípes encantados. Toda a história da Bela Adormecida e do formoso princípe que a ia beijar, não passa de uma farsa.
Vou quebrar a magia dos contos de encantar e explicar de uma vez por todas como as coisas são.
Há efectivamente princesas. As princesas, como seria de esperar, encontram-se na sua posição inacessível, longe dos olhares do mundo e onde apenas alguns privilegiados cavaleiros acompanhados dos seus formosos corcéis conseguem chegar. Ok, teoricamente seriam Ogres acompanhados dos seus chatos Burros; na prática deve ser qualquer coisa como um informático num Opel... por aí...
Acontece que os ogres não são seres perfeitos. Todo o conceito em torno de Princípe Encantado é falso porque implica subjectivamente o conceito de perfeição, o qual não existe, pelo menos no que respeita ao ogre.
Então, os ogres, inatamente desajeitados e com atitudes ogrescas, vão tentando mostrar à sua Fiona que não é necessário serem Princípes porque possuem algo que muitos princípes não têm: um coração (mesmo sendo verde-ogre).
Ok, são verdes e viscosos... em casos extremos até podem cheirar mal... mas o facto é que fazem qualquer coisa para proteger/resgatar a sua princesa. Nem que isso implique entrarem sozinhos num castelo em ruínas no topo de um vulcão e habitado por um dragão gigantesco para a tirar de lá.
Algumas princesas insistem em manter-se em locais inacessíveis, obrigando a esforços redobrados da parte do ogre. Bom, mas os ogres tentam sempre ser optimistas... escalam o vulcão, "limpam" o dragão mas ainda se arriscam a ser ignorados. Mas se os ogres se preocupassem com isso, não seriam verdadeiros ogres. Porque é isso que diferencia a perfeição de um Princípe Encantado da estupidez de um Ogre... o príncipe resgata a princesa que acha que lhe vai dar resposta, porque se não a obtiver vem-se embora e a princesa continuará à espera do seu salvador; o ogre não desiste de cruzar vales pantanosos, expor-se a si e ao fiel companheiro Burro (ou Dori) aos mais atribulados perigos, apenas para ir em busca da incerteza da Princesa Perdida (leia-se, Fiona). O ogre tem a noção perfeita que pode chegar ao cimo da torre e acabar engolido pelo dragão ou, pior ainda, o seu coração pode ser desfeito pelo próprio sujeito, objecto de salvamento (a Fiona)... mas ainda assim, insiste em convencer a princesa que é ele a pessoa - perdão, o Ogre - certo para ela, aquele que a pode fazer feliz.
Assim, e algumas vezes, o conto até acaba bem e fecha-se o livro dizendo "viveram felizes para sempre".
Ao fechar destas linhas, manter-se-á a escalada dantesca do ogre, trepando ao cimo da torre mais alta daquele velho castelo no meio do vulcão, enquanto carrega o Burro às costas e o peixe Dori no aquário na mochila, apenas para chegar junto da Fiona.
E, uma vez mais, mantemos aqui um breve mas não finalizável, FIM.

Cumprimentos patinos (e ogrescos, eventualmente)

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