05/08/2008

o saco

Toda a gente possui um saco de tralhas.
Aquele famoso saco que fica algures no topo do guarda-roupa, ou então refundido debaixo da cama com aquelas merdas que já não utilizamos.
Invariavelmente é também lá que metemos aqueles nossos amigos da primária, outrora nossos companheiros de aventuras, mas com quem entretanto fomos perdendo o contacto.
Na realidade, toda a nossa vida é uma espécie de trituradora de contactos. As pessoas que realmente nos importam são colocadas no nosso bolso da camisa, o mais próximo possível da cavidade torácica; depois temos uma série de contactos que nos vão passando ao lado, nunca adquirindo a importância do pessoal do bolso da camisa. Logicamente, estes útimos que nos passam ao lado, acabam por voar directamente para o tal saco.
Saco esse que, aliás, é também de extrema utilidade para outras tarefas, como a caça aos gambuzinos, por exemplo. O pessoal que lá anda dentro até serve de isco...
O facto é que a Saca Preta dos Despojos existe. Toda a gente tem uma. Mais cheia, mais vazia, mas existe.
Giro no meio disto tudo, é também ocorrer que sejam exactamente aqueles que nunca colocaríamos na saca, os que são capazes de o fazer à nossa ilustre pessoa. Logicamente, as coisas não são como o produto da multiplicação, em que a ordem dos factores não o alterava... assim, tal como dois vez três é diferente de três vezes dois, também nem todo o pessoal que seríamos incapaz de meter no saco será incapaz de nos fazer o mesmo.
Curiosamente (ou estupidamente, já não sei), mesmo depois de nos meterem no saco, continuamos a ser incapazes de enfiá-los no nosso saco preto. É impensável. Metam-me à vontade na saca, pronto, foda-se! Não esperem é que eu vos meta a vocês em retorno, porque não o vou fazer.
É sempre adorável acordarmos um dia e, lucidamente, percebermos que estamos dentro do saco.
É uma experiência plástica, digamos assim.
Creio que já faz parte.

2 comentários:

Anónimo disse...

"Giro no meio disto tudo, é também ocorrer que sejam exactamente aqueles que nunca colocaríamos na saca, os que são capazes de o fazer à nossa ilustre pessoa." Que tem isto de giro?
Já pensaste nos motivos adjacentes a toda esta questão? porque nos põem na saca? que pensam eles para o fazerem? Teremos feito asneira? se o fizemos não deveriamos ter noção que fizemos merda e que não merecemos estar no bolso da camisa?
Talvez fosse melhor po-los na saca tambem.

Pato Marques disse...

Olá Anónimo!
Não tem nada de giro, chama-se sarcasmo; passo muito tempo a pensar nos motivos adjacentes à saca e às asneiras que fazemos; tenho também a noção perfeita que muitas das vezes nem sequer na bolsinha do telemóvel deveríamos estar...
Mas po-los na saca também? Nunca!