28/10/2008

cráu!

Não deve haver nada mais agradável que andar a correr atrás da puta de uma osga às 7 da manhã...
É bom começar assim o dia.
Há quem esgalhe o pessegueiro, outros vão largar o repolho na sanita, e eu caço osgas.
As osgas são seres estranhos. Ficam ali, a olhar para nós, de forma estupidamente atenta.
Um gajo acorda e, no percurso habitual para ligar a merda do esquentador, depara-se com uma osga (ou osgo, sabe-se lá) a meio da sala... a ideia inicial é acender a luz, mas logo se percebe que não é grande ideia, porque a puta vai para um local escuro, debaixo do sofá.
Fico com a sensação que a osga tem sentimentos. Na realidade, é um ser-vivo, e eu estou a matá-la. Devia ser a filha de alguém, ou então a mãe. Vá lá saber-se quantas almas de osga deixei eu de luto, por não ter permitido que a bichinha assentasse praça na minha sala...
O que é chato é capturar esta bicharada sozinho.
Um gajo arrasta o sofá para a frente e o cabrão do animal foge novamente lá para baixo. Depois move-se o sofá para o outro lado. E o cabrão foge novamente.
A custo, matei o pobre animal.
Não o consegui apanhar à mão, pelo que me vi forçado a causar-lhe um traumatismo craniano com uma vassoura. É espantoso, porque consegui dar-lhe uma paulada valente sem lhe rebentar as entranhas (o que iria estragar o flutuante) e causar-me uma série de aborrecimentos com a certidão de óbito e a autópsia.
Há coisa de dois anos também tive a visita de uma osga durante um mês, na parte de fora da janela da casa de banho. Quando se acendia a luz, lá estava ela, alimentando-se sofregamente dos pequenos seres que se aproximavam da abertura da ventax. Engordou que nem uma vaca... quando foi embora já estava do tamanho de um sapo. Eventualmente por esse mesmo motivo, não se aguentou mais de um mês na vertical, colada ao vidro.
Lado positivo: deve ter sido o único ano em que não fui mordido por melgas, na casa de banho. É violento, porque elas têm a capacidade de abocanhar as zonas mais sensíveis do nosso ser (ou as mais doces, sabe-se lá) quando estamos a tomar banho tal como viemos ao mundo.
No meu delírio habitual, veio-me à cabeça uma cena importante.
Creio que nunca chamei avô ao meu Avô.
Talvez por ele ter sido mais meu Pai que o meu próprio pai, não me lembro de alguma vez lhe ter chamado avô.
Lembro-me sim, de o tratar sempre pela alcunha que lhe arranjei desde pequeno. Estupidamente, por ele ser um homem forte, sempre o tratei por Gordo.
Talvez por ele ter sido mais um amigo que um simples avô, e sempre o tratei como se fosse isso mesmo. Ironicamente, nunca me recusei a tratá-lo pelo nickname, nem mesmo quando estava já imensamente magro, fruto da doença que o levaria em breve.
De facto, fui uma besta. Não me teria custado nada chamar-lhe avô, nem que fosse quando o fui ver ao hospital... mas não, era demais para a minha ilustre pessoa, que nem a um doente à beira da morte diz o que sente.
Agora parece tarde para isso.
É altamente provável que esteja já mais passado e queimado que um simples louco, mas não me parece normal que ainda consiga ver a cara do meu avô a levar-me à escola, primeiro no Carocha, depois no Ford Escort e até mesmo naquela Fiat ranhosa que lhe davam no trabalho, e não consiga lembrar-me da cara da minha Mãe sem olhar para uma foto.
Devia ter estado mais tempo com ela, quando esteve no hospital... mas estava muito ocupado a tentar manter o emprego de merda que acumulava com o último ano de faculdade.
As escolhas que fazemos fodem-nos em grande.
Para quem gosta de banda desenhada, recomendo vivamente Luís Louro. Em particular, as aventuras do Corvo.
Emprestaram-me uns livros e tenho lido, tendo ficado positivamente impressionado. Agora, sempre que penso que só faço merda e que estou enfiado nela, lembro-me do Corvo. Meu Deus, haja alguém que consegue bater a minha marca de pontos de merda consecutivos (mm sendo uma personagem de banda desenhada).

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