24/10/2008

o efeito Magalhães

Quando era pequeno, a minha santa família não tinha rendimentos para me dar um computador. Então, o meu primeiro computador foi ganho ao entrar no secundário.
Passei então a infância a curtir com Legos e livros.
Quer isto dizer que até aos meus 16 anos, altura em que comecei a ter aulas de informática na escolinha, não via um boi de computadores.
Durante o secundário, e apesar de ir brincando com os computadores, o que me dava mesmo, mesmo gozo era a matemática e a física... sendo que o computador era mesmo só para jogar.
Considere-se ainda que o meu primeiro ano de faculdade foi passado a estudar Engenharia Mecânica, sendo que só ao final de uns meses dei conta que teria mais futuro (ou não) na informática.
Assim, e em poucos anos, com esforço e trabalho, tornei-me mais um dos cromos que vivem rodeados de cabos e tecnologia de ponta, contribuindo para um mundo melhor - pelo menos gosto de me convencer disso.
Outros tempos, em que não haviam Magalhães; não havia banda larga, e tinha de desligar o telefone cá de casa sempre que queria ligar a internet, o que fazia a minha Mãe passar-se.
Desta forma, e considerando de forma muito egocêntrica o meu caso, não percebo como pode o país evoluir positivamente por gastarmos milhões em computadores para os putos irem ver pornografia mais cedo. Eu comecei tarde e cheguei lá (não me referia ao porn...). Contribuo positivamente para o desenvolvimento económico do nosso país... e o Estado a mim nunca me deu um computador. Para quê começar agora?
Depois, hoje à tarde, passei na mercearia cá do sítio para comprar umas coisitas para o jantar e encontrei uma vizinha minha que estava a comprar uma fatia de fiambre, fiado.
Reparem que não estou a tentar exagerar... ela comprou mesmo uma e só uma fatia de fiambre, afirmando que depois passava lá para pagar.
Agora ponho-me a pensar.
Em nome do desenvolvimento económico, gastamos milhões em computadores supostamente 'produto nacional' (o que é uma valente tanga, já agora... a Intel é tudo menos portuguesa) e deixamos a malta a morrer à fome.
É, com toda a certeza, o verdadeiro espírito de um governo socialista... a malta morre de fome, mas morre culta.
Possivelmente a ideia será a de que dentro de uns anos já não haja malta a morrer de fome e frio... mas entretanto sacrificam-se os desgraçados que ficam por cá.
É positivo.

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